Entrevista com o Embaixador do Vietnã no Brasil- DO BA KHOA

1- Como é hoje  a relação do Brasil com o Vietnã?
O Vietnã e o Brasil estabeleceram relações diplomáticas em 1989 e a parceria abrangente em 2007. Para o Vietnã, o Brasil tem sido um parceiro de primeira importância na região. Os excelentes laços de cooperação e de amizade entre os dois países têm se desenvolvido de forma abrangente sobretudo nos campos da diplomacia política, cooperação econômica e comercial, defesa e segurança,ciência, tecnologia e técnica, e na diplomacia pública. Nos últimos anos, os dois países fizeram muitos esforços para consolidar o quadro jurídico para a cooperação, melhorar a eficácia dos mecanismos  de cooperação, manter a consulta política e valorizar a tradição de apoio mútuo nas instâncias internacionais e o intercâmbio de delegações em todos os níveis. A visita oficial do Ministro de Estado das Relações Exteriores Aloysio Nunes no Vietnã em maio de 2018 e a do Vice Primeiro-Ministro vietnamita Vuong Dinh Hue noBrasil em julho de 2018 e compromissos dos dois Governos na maior abertura
bilateral do mercado aos produtos do outro, a assinatura dos Acordos e Memorando de Cooperação nas áreas de transporte marítimo, aviação civil,agricultura, comércio, formação e investigação sobre assuntos internacionais e apreparação para assinatura do Acordo de Cooperação educacional, do Memorando de Cooperação na Defesa nacional constituem resultados desses esforços bilaterais.
A cooperação comercial é um ponto brilhante nos dois países.

É difícil imaginar que, de 59 milhões de dólares americanos em 2004, o valor de intercâmbio comercial pudesse atingir quase 4 bilhões de dólares americanos em 2015, 3,2 bilhões de dólares em 2016, 3,875 bilhões de dólares em 2017, 3,503 bilhões nos primeiros 10 meses de 2018. Em 2018, de acordo com as previsões, o valor do intercâmbio comercial bilateral ultrapassará 4,2 bilhões de dólares.Falando sobre cooperação futura, acho que há muito potencial, especialmente em termos de comércio e investimento. Além do mercado vietnamita de 93 milhões de consumidores, o Vietnã é considerado como a porta de entrada muito preferida por empresas estrangeiras no acesso e conquista do vasto mercado da ASEAN, que tem 634 milhões de consumidores e que é agora a sexta maior economia do mundo, muito aberto e em desenvolvimento dinâmico. Com o valor do comércio bilateral de 16,5 bilhões de dólares e é o segundo maior parceiro comercial do Brasil na Ásia, ainda existe uma grande potencialidade nos laços comerciais ASEAN-Brasil.

2-O que o Brasil importa e o que exporta?
O comércio bilateral no Vietnã – o Brasil é bastante diversificado. O Brasil exporta para o Vietnã produtos agrícolas como ração animal, milho e soja, carne de todos os tipos, folhas secas de tabaco, frutas, algodão, madeira e produtos de madeira e outras commodities como minérios e minerais, produtos químicos para a indústria plástica, acessórios têxteis, couro, aço, máquinas, equipamentos e autopeças. Os
principais itens são milho, soja, ração animal, acessórios têxteis, couro e ferro. O Brasil importa do Vietnã frutos do mar , borracha e produtos de borracha, fibras têxteis, vestuários, calçados, aço, computadores e produtos eletrônicos, telefones celulares, máquinas e acessórios . Os principais itens são vestuários , calçados, produtos eletrônicos e frutos do mar.A importância das relações comerciais entre os dois países é o equilíbrio comercial e complementaridade para o desenvolvimento econômico dos dois países. Não existe concorrência entre produtos. O Vietnã e o Brasil trocaram os grãos de
Arábica e Robusta para produzir produtos de mistura de café (blend) e exportá-los juntos ao mundo exterior. Por fim, tanto o café brasileiro quanto o vietnamita são bem conhecidos e apreciados por muitos consumidores no mundo. Máquinas, incluindo a bomba de irrigação para o café e máquina de café do Brasil e ração animal produzida pelo Brasil, estão apoiando o desenvolvimento das indústrias de
café e pecuária do Vietnã.

3-Existe algum projeto importante de cooperação na área militar e na área de agricultura?
A cooperação militar e a área da defesa são importantes  para as relações bilaterais. Os dois lados concluíram  negociações sobre  um memorando da cooperação em defesa e, até o momento, o documento está pronto para ser assinado. Espero que este memorando seja assinado em 2019. Recentemente, houve reuniões, discussões sobre os produtos da AVIBRAS, da Embraer com as agências relevantes do Vietnã, a aeronave E190-E2 da Embraer realizou um vôo de demonstração na capital de Hanói. Eu acho que a cooperação de defesa é um campo  com um grande potencial para a cooperação bilateral porque  as demandas  são enormes.

A agricultura e agronegócios são áreas importantes para os dois países. A materialização dos compromissos dos dois governos e do Memorando de Cooperação na agricultura criará condições favoráreis para a cooperação em agronegócios, formação e transferência técnica e tecnológica na produção agrícola e pecuária e criar mais empregos e valores agregados em cada país. O compromisso de em incrementar a importação bilateral de produtos agrícolas e abrir mais o mercado bilateral para os bens uns dos outros, será implementado através da troca de delegações técnicas para atualizar e unificar os certificados para produtos importados, além de outras medidas. A abertura do mercado vietnamita aos produtos proteínas do Brasil e a abertura do mercado brasileiro para o camarão vietnamita constituem passos desejáveis e muito benefícos para consumidores. O Vietnã também quer importar gado vivo do Brasil para criação e abate em função da necessidade e gosto do mercado. O Vietnã tem vantagens no cultivo de arroz, aquicultura, pesca, processamento de frutos do mar e produtos aquáticos e está disposto a participar de projetos de formação e transferência de tecnologia para produtores brasileiros em projetos
onde existem condições favoráveis. As empresas vietnamitas também querem beneficiar da transferência de tecnologias do Brasil no cultivo e processamento de cana de açúcar, produção de açúcar, etanol e do café.

4-Como o sr acredita que será a relação do Vietnã com o   Itamaraty  e com o novo
presidente eleito Jair Bolsonaro?

Sim. Não vejo nenhum obstáculo para o desenvolvimento contínuo e aprofundamento dos nossos laços bilaterais e estou confiante de que, na base do excelente relacionamento bilateral em todos os campos, a parceria abrangente, a cooperação e a amizade entre os dois ministérios das relações exteriores, entre o governo do Vietnã e o novo governo brasileiro, chefiado pelo Presidente eleito Jair Messias Bolsonaro continuarão a se aprofundar pelo benefício dos nossos dois povos.

Em 31 de agosto de 2018, na sua mensagem de felicitações endereçada ao Presidente eleito Jair Bolsonaro, o Presidente do Vietnã, S.E. o senhor Nguyen Phu Trong escreve: ‘Estou firmemente convencido que, sob a liderança de Vossa Excelência, o povo brasileiro continuará a conquistar novos ganhos importantes na construção de um Brasil cada vez mais desenvolvido e próspero, com a posição  continuadamente mais elevada na região e no mundo `. Na mesma mensagem, o Presidente Nguyen Phu Trong afirma a sua determinação em trabalhar juntos como Senhor Presidente eleito e o Governo do Brasil para consolidar e aprofundar ainda mais o relacionamento de Parceria Abrangente entre os nossos dois países, pelo benefício dos nossos dois Povos, pela paz, estabilidade e desenvolvimento nas duas
regiões e no mundo.Com muito respeito, o nosso Presidente convida o Senhor Presidente eleito Jair Bolsonaro a a realizar uma visita oficial  ao Vietnã, assim que puder.

5- Por gentileza use este espaço para fazer suas considerações finais e explicar  também um pouco sobre a cultura e turismo em seu país.

Estou aqui quase dois anos. Antes de servir como embaixador vietnamita no Brasil, tinha visitado o Brasil várias vezes, em diferentes qualidades. Vejo que o Vietnã, o Brasil e os nossos dois povos têm muitas semelhanças. Compartilhamos os mesmos importantes valores universais que são de amor à paz e à justiça, lutando pela paz, independência nacional, democracia, desenvolvimento sustentável e
progresso social. Tanto os dois governos quanto os dois povos fizeram grandes progressos e conquistaram importantes sucessos na construção de uma sociedade próspera. Apesar das dificuldades do contexto internacional atual , acredito que os dois governos continuarão a dar passos importantes na construção de um país próspero e no aprofundamento da nossa cooperação bilateral. O Vietnã é um país com uma longa história e uma cultura rica e diversificada. 7 regiões geográficas e a coexistência harmoniosa de 53 grupos étnicos e de 13 religiões no Vietnã representam uma diversidade de paisagens pitorescas de montanha, planalto, planícies, rios, e a diversidade de línguas, costumes, bem como a riqueza da cultura culinária. A cultura e a gastronomia do Vietnã têm semelhanças, mas também diferenças significativas com os países vizinhos na região. A sua posição geográfica possibilita e cria boas oportunidades para o cruzamento com outras culturas e assimilação dos melhores valores das culturas e
gastronomias do mundo, tais como a cultura da China, da Europa, da Índia… e combina-as harmoniosamente com a cultura e a gastronomias tradicionais vietnamitas. Além da beleza natural e gastronomia rica e saudável, turistas estrangeiros gozam também de um ambiente social muito amigável com a abertura, a hospitalidade dos vietnamitas. O Vietnã é classificado por mídias e agências de viagens internacionais como o destino dos Patrimonios Culturais universais e o Paraíso da gastronomia e está na moda do turismo internacional. 14 milhões de turistas estrangeiros visitam o Vietnã em 2018, nos quais mais de 25 mil são brasileiros.

DO BA KHOA

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Fabiana Ceyhan

Jornalista por formação, Professora de Inglês (TEFL, Teaching English as a Foreigner Language). Estudou Media Studies na Goldsmiths University Of London e tem vasta experiência como Jornalista da área internacional, tradutora e professora de Inglês. Poliglota, já acompanhou a visita de vários presidentes estrangeiros ao Brasil. Morou e trabalhou 15 anos fora do país.