Como a Índia respondeu à pandemia global, escreve o Secretário das Relações Exteriores da Índia Sr. Harsh V. Shringla

Seja na diplomacia ou na economia, na sociedade ou na formulação de políticas, estamos a aprender novas lições.

A pandemia de Covid-19 tem sido a maior crise que atingiu a humanidade desde a Segunda Guerra Mundial. Já nos custou mais de 500.000 mortes e inúmeros meios de subsistência. O impacto na economia foi extremamente incisivo. As instituições financeiras internacionais projetaram uma contração de quase 5% na produção global em 2020 e uma perda acumulada para o Produto Interno Bruto (PIB) global de cerca de US $ 12 triliões.

A rapidez com que a economia global vai recuperar daquilo a que o Fundo Monetário Internacional chamou de “Grande Confinamento” dependerá de quando a pandemia for controlada. À medida que a Índia entra na fase ‘Unlock 2.0’, os esforços do nosso governo são direcionados para uma maior expansão da atividade econômica, sem nunca baixar a guarda.

Temos sido proactivos na avaliação e na forma como enfrentamos os desafios causados pela pandemia. Salvar vidas tem sido a nossa principal prioridade. Nesse sentido, embora o nosso número de casos continue alto, produzimos comparativamente melhores resultados do que muitos outros países, com uma taxa de mortalidade reduzida e uma taxa de recuperação elevada. Tal pode ser atribuído aos primeiros passos dados no sentido de proteger e isolar as pessoas. O governo canalizou recursos públicos para o sector da saúde, para o desenvolvimento de hospitais, serviços de urgência, fornecimento de equipamentos e materiais e treino de profissionais de saúde.

Por forma a lidar com os desafios econômicos impostos pela pandemia, o Primeiro Ministro Narendra Modi anunciou uma abordagem econômica orientada para o futuro, sob o lema ‘Aatmanirbhar Bharat Abhiyaan’. O pacote de estímulo de cerca de Rs 20 lakh crore visa revigorar a economia e fornecer uma rede de segurança social para as camadas mais vulneráveis da nossa população. A visão do ‘Aatmanirbhar Bharat’ assentará em cinco pilares: Economia, infraestrutura, o nosso sistema, demografia e procura.

O ‘Abhiyaan’ visa não apenas mitigar o impacto socioeconómico da pandemia no curto prazo, como também incutir confiança nas empresas e indústrias; tornar a produção globalmente competitiva; integrar a nossa agricultura e pequenos agricultores nas cadeias globais de fornecimento de alimentos; e abraçar investimentos e tecnologia. O tamanho das medidas de apoio económico e estímulos sob o ‘Abhiyaan’ é equivalente a 10% do PIB da Índia.

A participação do sector privado recebeu um grande impulso em oito áreas, incluindo carvão, minerais, produção de defesa, aviação civil, distribuição de energia, infraestrutura social, espaço e energia atômica. O governo está a abrir sectores anteriormente restritos a uma maior participação privada.

Apelar ao ‘Aatmnirbharta’ não é reverter ao isolamento econômico. O seu objectivo primário é garantir a posição da Índia enquanto participante-chave nas cadeias de fornecimento mundiais. Através do desenvolvimento de capacidades internas, pretendemos contribuir para mitigar as interrupções nos mercados globais. É importante identificar os produtos e mercadorias onde a Índia tem a capacidade ou potencial de expandir a sua produção doméstica e aumentar a disponibilidade mundial. É verdade, não podemos fazer tudo – mas certamente podemos fazer muitas, muitas mais coisas do que aquelas que fazemos atualmente.

O envolvimento e a cooperação a nível mundial são essenciais para lidar com a pandemia e garantir a recuperação económica. O primeiro-ministro assumiu a liderança ao envolver líderes mundiais na criação de uma resposta concertada. Da mesma forma, o primeiro-ministro destacou que, durante a pandemia, a Índia tentou cumprir o ensinamento de ver o mundo como uma família, ‘Vasudhaiva Kutumbkam’, partilhando medicamentos com mais de 120 países, criando uma estratégia de resposta comum juntamente com os seus países vizinhos, e fornecendo apoio aos países que o procuraram, ao mesmo tempo que protegia a nossa própria população.

A pandemia gerou um debate sobre o futuro da globalização e as limitações estruturais da ordem internacional. As cimeiras virtuais dos líderes globais têm sido plataformas úteis para destacar as deficiências dos acordos existentes para a cooperação global, e para partilhar a visão da Índia de um novo modelo centrado nas pessoas para a cooperação multilateral. Este foi o teor das intervenções do primeiro-ministro nas cimeiras virtuais do G-20 e do Movimento dos Países Não Alinhados, para citar dois exemplos.

A pandemia interrompeu os calendários diplomáticos, fazendo com que quase todas as reuniões e cimeiras internacionais fossem canceladas. Embora as reuniões presenciais com colegas tenham sido maioritariamente consideradas essenciais para resolver problemas difíceis ou conduzir negociações complicadas, o envolvimento diplomático não pode parar na ausência destas. No Ministério dos Negócios Estrangeiros (MEA), estamos a tentar encontrar um equilíbrio entre os protocolos diplomáticos consagrados pelo tempo e os protocolos online, da nova era. Uma crise desta magnitude requer uma resposta global coordenada, e faz com que a comunicação continuada entre os países seja ainda mais essencial. O aumento das tensões em diferentes partes do mundo, inclusive na Linha de Controlo Real entre a Índia e a China, serviu apenas para sublinhar a importância de comunicar permanentemente. A diplomacia tem de se adaptar a novas situações.

A diplomacia virtual tem sido complementada pelos esforços em fornecer ajuda e assistência médica. Tal incluiu o fornecimento de medicamentos essenciais, kits de teste e equipamentos de protecção no valor de cerca de Rs 82 crores para 89 países. Mesmo nestes tempos difíceis, a Índia permaneceu fiável e receptiva no cumprimento dos seus compromissos internacionais.

À medida que as cadeias de fornecimento nas áreas da segurança e da saúde sobem nas listas de prioridades dos governos mundiais, a Índia deve preparar-se para as oportunidades emergentes. A diplomacia indiana apoiará esse processo na íntegra. O MEA está ativamente empenhado na promoção da Índia como destino alternativo de produção e inovação.

Há lições que estamos a aprender em todos os contextos e domínios – seja na diplomacia ou na economia, na formulação de políticas ou na sociedade. Estou confiante de que elas servirão para fortalecer os nossos sistemas, a nossa determinação e o nosso país, enquanto deixamos para trás os nossos actuais desafios.

Harsh Vardhan Shringla é Secretário das Relações Exteriores da Índia. Este artigo tem por base um discurso proferido à ICAI. As opiniões expressas são pessoais.

(Disclaimer: This is an unofficial translation into Portuguese. In case of any divergences, the English version shall prevail. Original article in English can be accessed at https://www.hindustantimes.com/analysis/how-india-has-responded-to-the-global-pandemic/storyxEts6wZ9540c4W9J2iQYAN.html)

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Fabiana Ceyhan

Jornalista por formação, Professora de Inglês (TEFL, Teaching English as a Foreigner Language). Estudou Media Studies na Goldsmiths University Of London e tem vasta experiência como Jornalista da área internacional, tradutora e professora de Inglês. Poliglota, já acompanhou a visita de vários presidentes estrangeiros ao Brasil. Morou e trabalhou 15 anos fora do país.