A história entre Brasil e China é compartilhada por índices de desenvolvimento e situações econômicas similares, com interesses e capacidade de adaptação às transformações em curso no sistema internacional. Brasil e China mantêm fortes relações comerciais com ênfase no agronegócio amalgamadas por novas políticas econômicas, visando à construção de uma sociedade próspera. A valiosa parceria revela que uma significativa parte da produção de grãos do Brasil, em especial, a soja, é destinada ao mercado internacional chinês.
A importância das relações entre esses dois países é pontuada a partir da admissão da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, hoje uma superpotência econômica. A abertura da China para o comércio exterior marca a renovação da história da humanidade, no sentido de permitir novos estudos sobre a sua história, em especial, nos setores econômico, político e social.
A China encontra-se em pleno crescimento econômico, tornando o mercado de investimento e de exportação, o grande negócio. Ademais, quando se fala no aspecto econômico, vale mencionar que o processo de importação teve grande importância para o desenvolvimento da China; afinal, um país quando aberto ao Mundo, deve se preocupar por atrair investimentos estrangeiros que possibilitem o seu crescimento.
A política de integração internacional da China está relacionada à estabilidade política, cooperação econômica e comercial com o exterior, a produção industrial e agrícola estável e suficiente para a exportação; medidas governamentais de incentivo à exportação; e a melhoria constante do ambiente interno de investimentos, que atrai mais capital estrangeiro. As medidas de ajuste econômico adotadas pela China e colocadas em prática, em especial depois da grande crise financeira internacional de 2007/2008, contribuíram decisivamente para a concorrência de capital estrangeiro.
Infere-se acerca do crescimento baseado na expansão dos investimentos, impulsionados pela articulação entre urbanização e industrialização, que colimou em excesso de capacidade em vários setores industriais chineses, acelerando a pressão pela saída de capitais e por mudanças em direção a uma economia menos dependente da realização de investimentos no mercado interno. Mudanças essas anunciadas no 14º Plano Quinquenal econômico e social do país (2021-2025) e pela Belt and Road Initiative (BRI), que estabelecem os pilares fundamentais para uma economia “moderadamente próspera”, como destacado pelo planejamento chinês.
Desde então, a relação entre Brasil e China se intensifica a cada momento, uma vez que são dois países de dimensões continentais. A China tem 20% da população mundial, o que equivale a 1,4 bilhão de pessoas para alimentar e 10% das terras aráveis, o que gera uma demanda de alimentos inequívoca e requer parceria com um país grande como o Brasil. O Brasil é o maior parceiro comercial da China na América Latina, com terras férteis, riqueza hídrica, tecnologia de ponta e uma intensa capacidade de produção. A prosperidade econômica da China está imbuída de uma classe média ascendente, que deseja diversificar e melhorar seu consumo.
No primeiro trimestre de 2021 as trocas comerciais entre os dois países atingem 101 bilhões US$. Observa-se que as relações econômicas e comerciais entre Brasil e China vêm se ativando, permitindo novas perspectivas em diversos setores, com exportações de proteína animal 7,2%, instrumentos médicos (+ 71% em relação a março de 2020), produtos farmacêuticos (+ 78%), exportação de açúcares e melaço cresce 1,000%, indústria extrativa e agropecuárias responderam por 79% das exportações brasileiras. Exportações de semimanufaturados de ferro ou aço apresentam crescimento exponencial (CEB, abril 2021). A parceria do agronegócio brasileiro com a China começou no comércio e evoluiu para os investimentos, pavimentando uma aliança com aporte de capital chinês em infraestrutura, logística de transportes, cooperação em tecnologia e inovação.
No que tange à agricultura, verifica-se a ampliação da eficiência da produção dentro e fora das propriedades rurais, no complexo de grãos e carnes. Para os brasileiros que atuam na área do agronegócio, a China é a preferência global, com perspectivas de produtos com pouca presença no mercado chinês de café, algodão, farelo de soja, fumo, suco de laranja e frutas exóticas.
É fato que o Brasil não pode perder de vista os seus interesses em relação ao comércio chinês; contudo, não se pode negar que a China, na nova conjuntura, é considerada um dos maiores parceiros do Brasil no que tange ao agronegócio.
O Brasil, além de contar com a melhor e mais eficiente agricultura tropical do mundo, ainda dispõe de milhões de hectares a serem explorados. Percebe-se a vantagem que o Brasil apresenta sobre a China, calcada nos recursos naturais que possibilitam estabelecer uma plataforma única em agricultura, energia, mineração e serviços ambientais. Assim, apesar dos estudos demonstrarem que a China caminha cada vez mais a se constituir a primeira economia mundial; o Brasil vem se posicionando no sentido de demonstrar que a sua força reside nos seus recursos energéticos e naturais. Um exemplo do crescimento de comércio do agronegócio entre o Brasil e a China é a região Oeste da Bahia, localizada a 947 Km de Salvador e 540 Km de Brasília, que apresenta um pujante crescimento econômico resultado do seu agronegócio, intensificado a partir da década de 1980, principalmente com o segmento produtor de grãos. Vale salientar que a região Oeste da Bahia é apenas um dos exemplos, já que o cultivo de soja, no Brasil, desenvolve-se, ainda com pujança nas regiões do Centro-Oeste e Sul do país. Hoje, a cadeia do agronegócio na região é altamente explorada com grãos e demais produtos. A região já é considerada um grande polo exportador de grãos, de maneira que 50% da sua produção é destinada ao mercado internacional, e a entrada da China como mercado importador de grãos impulsionou de forma indelével a produção na região.
Ficou evidenciado pela história, que a relação estabelecida entre o Brasil e a China perduram por mais de dois séculos. No contexto atual, o Brasil lidera o ranking mundial das exportações de grãos de soja. Estima-se que nos próximos anos a China aumentará as importações de soja em mais de 10 milhões de toneladas, o que possibilitará aos agricultores maiores oportunidades e, consequentemente, maior sustentabilidade econômica do país. A contribuição da China no desenvolvimento tecnológico do agronegócio inclui a agricultura digital, internet, e-commerce, conectividade das fazendas, gerenciamento de dados, big data, blockchain, drones agrícolas, gestão e governança avançadas.
Urge consolidar a cooperação internacional com uma visão estratégica de longo prazo, com um horizonte que ultrapasse o ano de 2035. O Brasil terá de incrementar sua produção em 40% no mesmo período, a partir de uma interação estruturada calcada na segurança alimentar do futuro.
Neste momento delicado de recessão global, afetado pela pandemia de Covid-19, estar próximo da China deve ser a estratégia do Brasil, através de uma soft diplomacy – diplomacia cultural.