As primeiras juízas do Afeganistão que receberam vistos humanitários após o Talibã retomar o poder no país da Ásia Central chegaram esta semana à Brasília para dar entrada em pedidos para obtenção de refúgio. Este grupo acolhido no Distrito Federal é formado por sete famílias, totalizando 26 pessoas, incluindo idosos e crianças. A ação humanitária vem sendo articulada há mais de um mês pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), juntamente com o Governo do Distrito Federal, representado pela secretária de Justiça e Cidadania (Sejus), Marcela Passamani, e os Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores.
“Há algumas semanas a presidente da AMB, Renata Gil, me procurou para falar sobre a situação dessas famílias e eu imediatamente conversei com o governador Ibaneis Rocha, que solicitou que essas famílias fossem acolhidas da melhor forma possível. Foi feita uma grande articulação de todo o GDF para oferecer um atendimento humanizado para essas famílias. Me coloco sempre à disposição, e lembro que a Secretaria de Justiça também é de Cidadania, e que o nosso papel é garantir direitos. O que nós estamos fazendo aqui é garantir direitos para essas famílias que vieram buscar um refúgio em território nacional e uma esperança em dias melhores ”, afirmou a titular da Sejus no lançamento da campanha Nós Por Elas, na noite desta quarta-feira (20).
A secretária Marcela Passamani disponibilizou psicólogos e assistentes sociais da pasta para acompanharem os acolhidos. Em nome do GDF, também foram oferecidos suporte para a saúde, auxílio para vacinação, escolas para as crianças e emissão de documentos pelo Na Hora, em cooperação com a Receita Federal e a Polícia Federal. “Agradeço por toda ajuda que vocês estão oferecendo a todas nós e nossas famílias. Eu já aprendi a falar algumas palavras em português: ‘obrigada a todos'”, agradeceu uma das juízas afegãs ao acolhimento que recebeu no Brasil. Por questão de segurança, nenhuma das refugiadas teve o nome divulgado.
Entenda
A movimentação da associação brasileira atende a um apelo da União Internacional de Magistrados (UIM), que emitiu um comunicado pedindo proteção às juízas do Afeganistão, por temer uma nova perseguição do regime dos talibãs a mulheres que ocuparam posições de poder nos últimos anos, como é o caso das magistradas afegãs. O Talibã é conhecido como grupo fundamentalista que, em uma primeira passagem como governante do Afeganistão, nos anos 1990, restringiu direitos básicos das mulheres, impedindo-as de terem acesso ao mercado de trabalho, à educação e até de frequentar espaços públicos sem a presença dos maridos, por exemplo.
A AMB solicitou o apoio do Governo do Distrito Federal, por meio da Sejus, em uma reunião com a secretária Marcela Passamani no começo de setembro. As juízas que desembarcaram no Brasil terão abrigo provisório, onde poderão residir com suas famílias e buscar se estabelecer no país. “Temos compromisso social e solidário de fazer com que essas famílias retomem suas vidas. Tudo foi feito em sigilo, então não soubemos onde ou como foi feito”, disse a presidente da AMB, Renata Gil, na cerimônia de lançamento da campanha.