Entrevista com o embaixador da Itália Francesco Azzarello exclusiva para a jornalista Fabiana Ceyhan – Brasília in Foco
5 de abril de 2021
Embaixador, fale um pouco para nossos leitores sobre as relações Itália – Brasil hoje.
Quando falamos de nossas relações bilaterais não podemos esquecer que os italianos fazem parte da história e da construção do Brasil moderno, nossa emigração começou na década de 1870. Hoje temos cerca de 32 milhões (ou mais?!) de brasileiros de origem italiana, a maior comunidade em todo o mundo, e cerca de 730.000 italianos com passaporte residentes neste país. Esses dados não requerem comentários, exceto para repetir que existem laços muito fortes entre nós, em primeiro lugar de sangue, portanto indissolúveis. E na Itália hoje temos cerca de 150.000 brasileiros.
O verdadeiro problema, que é a distância geográfica, é hoje preenchida pela tecnologia moderna. Há também fluxos turísticos muito fortes nos dois sentidos, propriedades imobiliárias mútuas e, de nossa parte, 968 empresas italianas registradas no Brasil. Algumas dessas são verdadeiros gigantes, atuam em setores tecnologicamente estratégicos, grandes investidores. Outras são de médio a grande porte, algumas totalmente novas. Do lado italiano, mesmo no setor econômico-comercial-industrial, a atenção ao Brasil tem sido constante ao longo do tempo.
Realmente temos muito em comum, e eu acredito que isso possa proporcionar um excelente comércio Brasil-Itália. Conte-nos por gentileza como estão essas relações no contexto atual
A Itália em 2020, segundo dados oficiais brasileiros, foi o oitavo fornecedor no seu país (o segundo entre os paises da UE) e o décimo quarto comprador (o quarto entre os países da UE). O intercâmbio comercial se contraiu devido à pandemia, com redução de 3% nas exportações brasileiras e de 14,6% nas importações. A balança comercial a favor da Itália diminuiu, portanto. Essas são tendências que afetaram muitos outros países parceiros tradicionais do Brasil. Os estados federativos com os quais o intercâmbio foi maior em 2020 estão na ordem São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco.
Na sua opinião como serão as relações entre os dois países no futuro.
É claro que podemos e devemos fazer mais. As áreas potenciais de melhoria são consideráveis, tanto nos diversos setores em que já atuamos e cooperamos, como em novas áreas ou áreas ainda por explorar.
Em algumas estamos trabalhando com nossos amigos brasileiros, em outros devemos ambos ser mais pró-ativos. Não é fácil porque a competição internacional é acirrada, mas estamos convencidos de que podemos oferecer “pacotes” mais articulados, melhor estruturados de um ponto de vista geral, com o decisivo valor agregado da simpatia instintiva e sincera e da compreensão mútua que só profundos laços históricos podem consolidar com o tempo e tornam a relação bilateral mais fácil.
Nossos dois países têm complementaridades distintas e podem se ajudar e se completar mutuamente, inclusive em terceiros mercados. Basta pensar no setor agroalimentar, setor fundamental para ambas as economias, superavitário, onde o modelo italiano de propriedade e gestão poderia ser útil ao Brasil, sem falar no nível de conhecimento científico do Brasil, e também na produção de energias renováveis, fertilizantes naturais e serviços para proteger o meio ambiente e o ecossistema, processos de transformação de matérias-primas. A agroalimentação é parte integrante da cultura e do estilo de vida dos italianos e também uma atração turística.
Obviamente a Embaixada da Itália, com seus escritórios comercial, financeiro, científico, cultural e linguísticos estão à disposição dos interessados, bem como o muito forte e articulado Sistema Italiano no Brasil, a partir da rede consular capilar (inclusive a honorária), a ICE / Agência de Comércio Exterior, SACE / SIMEST / seguradoras públicas italianas e empresas de apoio financeiro, a rede de Câmaras de Comércio Ítalo-Brasileiras, os Institutos Italianos de Cultura, ENIT / Agência de Turismo e muito mais.
Relações internacionais
Esperamos que o Acordo UE-Mercosul possa entrar em vigor o mais rapidamente possível, pois seria fundamental para os dois grupos de países, sob perfis distintos, e representaria um avanço decisivo nas relações futuras em benefício de todos. Esperamos também que o Brasil consiga aderir à OCDE em breve, já tendo feito muito do trabalho necessário para o acesso, embora algo ainda precise ser concluído.
Não se deve esquecer que o Brasil é um membro extremamente importante e honrado do G20, do qual a Itália ocupa a presidência em 2021. Todos esperamos ter um Brasil protagonista, construtivo e positivo.
Conte-nos um pouco sobre a luta comum contra a pandemia que o mundo enfrenta hoje, por gentileza.
É mais uma área onde complementaridade e trabalho comum caracterizam as relações bilaterais, onde obviamente a ciência está a serviço da humanidade e onde temos um grande potencial a ser explorado no futuro.
O Brasil é o quarto parceiro acadêmico da Itália e a pesquisa brasileira, para a qual também contribuem pesquisadores italianos em seu país, está dando uma importante contribuição no combate ao COVID-19, por exemplo na identificação e estudo de variantes genômicas virais.
Mas também no campo das vacinas e no objetivo comum de nos tornarmos autossuficientes na sua produção, podemos fazer muito mais. O Brasil está trabalhando nessa direção, assim como a Itália, que já participa de uma conhecida vacina internacional, está na fase final de testes de uma vacina italiana, enquanto outra inicia a fase experimental.
Nota da Edição:
O Embaixador Azarello é um diplomata de Carreira que já serviu em vários países e para conhecer mais sobre a sua biografia, entre no link abaixo. O Site Brasilia in Foco agradece a entrevista e a atenção de um país irmão e importante culturalmente que faz parte da história do Brasil. A Jornalista Fabiana Ceyhan é descendente de italianos e tem muito orgulho desta parte materna de sua família.
https://ambbrasilia.esteri.it/ambasciata_brasilia/it/ambasciata/ambasciatore/