No dia 4 de agosto, a Sérvia marca o Dia do Sofrimento de seu povo na ação do exército croata “Tempestade”. Naquela data, no ano de 1995, as Forças Armadas Croatas, com a aprovação e apoio da OTAN, em cooperação com o Conselho de Defesa Croata (HVO) e o Exército da Bósnia-Herzegovina (ABiH), atacaram o norte da Dalmácia, as regiões de Lika, Kordun e Banija, e a Região Autônoma Sérvia de Krajina, como parte da então República da Krajina Sérvia. A agressão foi realizada apesar do fato da área estar sob a proteção da ONU, e de os representantes da República da Krajina Sérvia, no dia anterior em Genebra e Belgrado, aceitarem a proposta da Comunidade Internacional de uma solução pacífica para o conflito.
Contra os sérvios da Krajina (cerca de 230.000 habitantes, dos quais aproximadamente 30.000 soldados), foram engajados cerca de 200.000 soldados, dos quais 138.500 membros do Exército da Croácia, Ministério do Interior e HVO, participaram diretamente na operação. Em poucos dias de luta desigual, a resistência do Exército Sérvio de Krajina (SVK) foi quebrada. O povo de Krajina ocidental, mais de 220.000 deles, parte para o leste, em direção à Republika Srpska (BiH) e Sérvia.
Desde 2014, a Sérvia e a Republika Srpska marcam, em conjunto, os dias do sofrimento do povo sérvio na Segunda Guerra Mundial e na operação militar croata “Tempestade”. Marcamos o dia da “Tempestade”, que é comemorado na Croácia como o grande Dia da Vitoria, como o Dia da Memória das vítimas e sérvios expulsos da ação armada “Tempestade”.
Atualmente, 1.852 pessoas estão na lista de sérvios mortos e desaparecidos na “Tempestade” (fonte: Veritas). Por gênero: homens 71%, mulheres 29%. Por status: civis 1.200 (65%); soldados 641 (35%); policiais 11. Por idade: até 18 anos – 9; de 18 a 60 anos – 884 (48%); acima de 60 anos – 908 (49%); idade desconhecida – 51 (3%)
Os danos materiais causados pela “Tempestade” são incalculáveis: foram destruidos 13.000 edifícios, 352 comércios, 25.000 casas, 410 lojas, 78 igrejas, 96 museus, 181 cemitérios, 920 monumentos, 52 centros de saúde, todas as instalações industriais…
EQUILÍBRIO DEMOGRÁFICO DA “TEMPESTADE”
De acordo com o censo de 1991, havia 581.663 sérvios vivendo na República da Croácia (12,2% da população total), enquanto em 2011 ele mostrou que havia 186.633 (4,36% da população total). Após a guerra civil e o êxodo em massa do povo sérvio, o número de sérvios caiu por 2/3. Hoje os sérvios vivem na Croácia em grande número em áreas que não foram afetadas pela Operação Tempestade.
MENSAGENS POLÍTICAS
Hoje, quase ninguém na Europa e no mundo fala sobre genocídio contra o povo sérvio no território da criação nazista do Estado Independente da Croácia na Segunda Guerra Mundial, e a história de terror sobre o campo de concentração de Jasenovac é envolta em silêncio. Os crimes contra o povo sérvio no final do século 20 não podem ser vistos fora do contexto dos crimes e genocídios do período da Segunda Guerra Mundial.
A Sérvia e a Republika Srpska lutarão resolutamente contra o silêncio sobre as vítimas sérvias.
Queremos reconciliação e paz, mas não concordamos com a humilhação ou o silêncio. Nunca forçamos ninguém a admitir o genocídio, mas apenas para mostrar desprezo pelas vítimas sérvias, e não para comemorar sobre os túmulos de nossos compatriotas.
A Sérvia e a Republika Srpska nunca celebrarão a tragédia do povo sérvio, o assassinato de civis e crianças sérvias.
Nunca mais haverá uma “Tempestade” contra o povo sérvio, porque a Sérvia não vai permitir. A Sérvia não se vangloria de sua força, mas é forte o suficiente para nunca mais permitir um massacre contra o seu povo.
A “Tempestade” é um dos maiores crimes de limpeza étnica no mundo após a Segunda Guerra Mundial, com mais de 220.000 expulsos.
A Sérvia nunca pedirá novos conflitos, porque quer se desenvolver em cooperação com todos na região, mas é obrigada a lembrar e a não se calar. A paz é mais importante para o povo sérvio, e é por isso que a Sérvia faz tudo para não responder às numerosas e frequentes mensagens provocativas da região.
A Sérvia e a Republika Srpska têm um interesse vital em fazer parte da comunidade internacional e nunca devem ser isoladas novamente.
Não houve justiça nas relações internacionais por muito tempo e o discurso é muitas vezes um princípio nas relações internacionais hoje, razão pela qual o aspecto criminoso da “Tempestade” é sistematicamente negligenciado por parte do público internacional (especialmente do Ocidente).
Ninguém da liderança militar e política croata foi responsabilizado perante o Tribunal de Haia pela expulsão de quase um quarto de milhão de sérvios (que é o número total dos expulsos nas ações do exército) e pelo assassinato de um grande número de civis e prisioneiros. Na acusação de Haia contra os generais croatas Ante Gotovina, Ivan Cermak e Mladen Markac, a “Tempestade” foi caracterizada como uma empresa criminosa conjunta que visa a expulsão permanente e baseada em princípios da maioria dos sérvios da antiga República da Krajina Sérvia. Nenhum deles foi condenado e os três foram absolvidos (Gotovina e Markac foram condenados em primeira instância, mas absolvidos pela Câmara de Recursos).
A presença de representantes da comunidade internacional e do corpo diplomático nas “comemorações” croatas do Dia da Operação “Tempestade” é incompreensível, porque os presentes participam efetivamente na celebração do Dia da Limpeza Étnica.
Os sérvios que permaneceram na Croácia ainda são frequentemente tratados como seres de ordem inferior (lhes é negado o direito à língua, à cultura, ao progresso econômico e à uma vida digna).
POSIÇÃO ATUAL DOS SÉRVIOS NA CROÁCIA
Embora a Croácia tenha um quadro jurídico satisfatório para as minorias, na prática existem numerosos obstáculos ao exercício dos direitos garantidos constitucional e juridicamente. Observamos que casos de discurso de ódio, revisionismo histórico, discriminação contra o povo sérvio e violência física e danos à propriedade que afetam diretamente a sustentabilidade econômica, especialmente em ambientes de repatriados, na prática contribuem continuamente para a ameaça ao direito à liberdade de expressão como um dos princípios básicos da minoria.
Questões abertas permanecem: direitos adquiridos não cumpridos (moradia, pensão em moeda estrangeira, aposentadorias, propriedade), (in)sustentabilidade econômica: os sérvios em áreas rurais enfrentam falta de infraestrutura básica (eletricidade, rede de estradas, abastecimento de água); a discriminação no emprego está presente em todos os níveis, sendo particularmente significativa a sub-representação dos sérvios empregados nos órgãos da administração estatal, no judiciário e na polícia; são constantes os obstáculos à aplicação do direito ao uso oficial da língua e da escrita, especialmente em áreas onde está presente o maior número de sérvios.
Fonte: Embaixada da Servia no Brasil