Coluna: Livro da Vida .Poema de Raul de Taunay

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LIVRO DA VIDA

 

Sinto-me no limiar da eternidade,

Onde se julga a cláusula dos tempos,

Respiro flores com décadas ao vento

E me desvendo no portal da claridade.

 

Encontro a terra deserta e cansada,

Sentida, mortificada, nua em pelo,

E vejo sonhos e ruínas pela estrada

Em séculos de embates e exageros.

 

Busquei o final do horizonte fundo,

O destino vocal do último segundo,

Escrevi, no jardim, epitáfio escuro,

Na pedra talhada, cravei meu urro.

 

Penso, medito, declina este dia,

Na rocha, o oceano explode arteiro;

Não é um capítulo a duração da vida,

É impulso que leva a ler o livro inteiro.