Artigo – RELAÇÕES COMERCIAIS E SÓCIO-CULTURAIS ENTRE BRASIL E ASEAN – Por Leila Bijos

A Ásia se apresenta como uma das frentes mais promissoras de atuação diplomática em 2021, pois trata-se de uma das regiões de maior dinamismo do globo, abrigando uma riqueza de culturas, etnias, religiões e instituições sócio-políticas. Brasil e Ásia apresentam um perfil sólido e consistente, com importantes contingentes populacionais de origens asiáticas diversas que escolheram viver aqui. Os relacionamentos com vários países asiáticos são densos e harmoniosos, ancorados em estratégias sociais e comerciais crescentes, parcerias auspiciosas na região.

A Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), criada em 8 de agosto de 1967: Association of Southeast Asian Nations, é formada por Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia, desde 1967; Brunei, a partir de 1984; Vietnã 1985; Mianmar e Laos a partir de 1997 e Camboja desde 1999. Implementada em meados da década de 60, somente em 1976 com o “Tratado de Amizade e Cooperação”, é que as diretrizes para sua atuação foram aprovadas. O fio condutor para unir a ASEAN é a cooperação, âncora firme do diálogo entre os 10 países, a paz entre cada um dos membros, assim como a independência e soberania de cada Estado. Vale lembrar que os blocos econômicos representam sistemas de interação e integração entre países do mundo, de forma a assegurar e dinamizar as relações diplomáticas, econômicas e políticas de determinadas regiões, e ainda promover paz e segurança.

     A cooperação entre o Brasil e a Associação de Nações do Sudeste Asiático, está inserida num processo de economias emergentes, globalização, consolidação de novos blocos econômicos e atores estatais de integração regional. Diversas são as diferenças culturais entre ambas regiões: história, religião, gastronomia e economia. No entanto, o capitalismo globalizado, norteado pela “ocidentalização”, é elo que liga o Brasil a cada um dos membros da ASEAN, dentro do contexto de abertura de mercados, cooperação em ciência e tecnologia, transferência de know-how em produção e produtividade, dentre outros. 

Inicialmente, a Crise Financeira Asiática – ou Crise Monetária do Sudeste Asiático – ocorrida em 1997 suscitou na região uma série de questionamentos sobre os benefícios da globalização e da interdependência econômica. Essa crise apresentou importantes implicações estratégicas regionais que colocaram em cheque a necessidade da ASEAN buscar por novos parceiros de integração. Diante deste fato, ocorreu uma importante aproximação entre a América Latina e a Ásia com a ampliação dos laços políticos e parcerias comerciais, especialmente com o Brasil, através da reavaliação de seus modelos de desenvolvimento, princípios de política e arranjos monetários no âmbito regional. Ao passo que a Ásia do Leste procurou estabelecer um Fundo Monetário Asiático (AMF), que substituiria parcialmente o FMI na região. No que se refere ao aspecto econômico, o MERCOSUL é um boco de união aduaneira, que objetiva criar um mercado comum entre seus Estados Partes, a partir de um PIB nominal de US$ 3,2 trilhões.  

     As perspectivas futuras de consolidação das relações Brasil-ASEAN visam ir além das atuais estruturas frouxas de consultas regionais, para um nível mais alto de cooperação econômica com negociações estratégicas num cenário 2035, uma vez a ASEAN completa 54 anos. Urge aumentar a presença da mídia brasileira no Sudeste Asiático, contornando os problemas orçamentários que essa custosa opção representa às nossas empresas de comunicação, a fim de permitir a construção de uma imagem da Ásia mais próxima de sua realidade, principalmente através da intensificação dos intercâmbios culturais. Poderia haver um produto fabricado no sudeste asiático, por exemplo, que gerasse no Brasil o mesmo impacto que as nossas telenovelas causam no mundo, como a Escrava Isaura, que se tornou uma de suas principais fontes de conhecimento da história brasileira. No campo educacional, deve-se discutir a história, a cultura, a gastronomia, o desenvolvimento sustentável, a promoção de tecnologia de geoprocessamento e observação da Terra, sensoriamento remoto, a prevenção de desastres naturais, e a medicina ancestral.

                Cingapura. Site: Google.search

As relações com a ASEAN devem ser harmoniosas, imbuídas de valorização do povo do Sudeste Asiático pela sua luta em prol da democracia, da liberdade, e construção da defesa nacional. Estamos convencidos de que as relações de cooperação entre o Brasil e a Ásia, entre o MERCOSUL-ASEAN, devem estar inseridas em mecanismos de solidariedade, exercício permanente da reciprocidade negociada. O estreitamento das relações comerciais, financeiras, investimentos conjuntos, cooperação em ciência e tecnologia, turismo, entre Filipinas, Indonésia, Malásia, Cingapura, Mianmar, Tailândia, Vietnã e o Brasil, estão em vigor desde a década de 1980, mas necessitam se robustecer e apresentar resultados práticos, através da implementação de novos dispositivos dos acordos já assinados. Cingapura, por exemplo, é uma cidade-estado insular situada ao sul da Malásia, que se tornou um centro financeiro global, e exemplo indelével de extraordinária mudança em inteligência artificial, infraestrutura urbana, tecnologias avançadas, vinculada ao impulso internacional contemporâneo. São dinâmicas recorrentes com a participação de empreendedores, homens de negócios, técnicos, acadêmicos e estudantes.

De acordo com as metas traçadas pelos dirigentes da Associação, a cooperação econômica deve ser concebida a longo prazo, uma vez que os membros da ASEAN estão aptos a vencer os desafios de línguas diferentes, cultura, distância geográfica, a fim de atingir o objetivo comum de riqueza, prosperidade e conhecimento recíproco.

Ao Brasil resta aprofundar as relações comerciais e socioculturais com a ASEAN, imbuindo-se do exemplo integrador, da inovação, e valorização do capital humano.  

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Leila Bijos

Pós-Doutora em Sociologia e Criminologia pela Saint Mary’s University, Halifax, Nova Scotia, Canadá. Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (CEPPAC/UnB). Professora Visitante do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais (PPGCPRI), Universidade Federal da Paraíba (2020). Coordenadora de Pesquisa do Centro de Estudos Estratégicos (CEEEx), Núcleo de Estudos Prospectivos (NEP), Ministério do Exército (2019-2020). Aigner-Rollet-Guest Professor at Karl-Franzens University of Graz, Áustria Centro Europeu de Formação e Investigação dos Direitos Humanos e Democracia, Uni-Graz (2018/2019). Pesquisadora Visitante no International Multiculturalism Centre, Baku, Azerbaijão (2018). Professora do Mestrado Stricto Sensu em Direito da Universidade Católica de Brasília (2000-2017). Oficial de Programa do PNUD (1985-1999). Professora do Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual Transferência de Tecnologia para a Inovação – PROFNIT, Universidade de Brasília (UnB), CDT, Brasília, DF desde 2016.