Afetado pelo Brasil, desemprego urbano na América Latina e no Caribe deve subir para 9,4% em 2017

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A taxa de desemprego urbano nos países da América Latina e do Caribe deve subir para 9,4% este ano, influenciada pelo fraco desempenho do mercado de trabalho brasileiro, segundo projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

De acordo com as agências das Nações Unidas, a fragilidade dos mercados de trabalho da região também se reflete na qualidade do emprego. Em seis de oito países com informação disponível, a criação de emprego por conta própria foi mais dinâmica que a criação de emprego assalariado durante o primeiro semestre de 2017.

Desemprego é mais alto entre mulheres do que entre os homens. Foto: Agência Brasil

Foto: Agência Brasil

O baixo crescimento econômico apresentado pelos países da América Latina e do Caribe nos últimos anos continuará afetando o desempenho dos mercados de trabalho da região em 2017, apontou novo relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado nesta quinta-feira (19).

Segundo as últimas estimativas das agências da ONU, a taxa de desemprego urbano regional deve ficar em 9,4% na média do ano, alta de 0,5 ponto percentual em relação a 2016. Trata-se do terceiro ano consecutivo de aumento.

Assim como nos anos anteriores, a tendência da região está sendo influenciada pelo fraco desempenho do mercado de trabalho brasileiro, mesmo diante da projeção de leve crescimento econômico para o país este ano e de início de estabilização de seus indicadores laborais, apontou o documento.

De acordo com as projeções, o Brasil registrou taxa de desemprego urbano de 14,9% no primeiro semestre de 2017, frente a 12,4% no mesmo período do ano anterior. No ano inteiro de 2016, a taxa de desemprego urbano do país ficou em 13%, uma das maiores da região, segundo dados do relatório.

Nos demais países latino-americanos e caribenhos, o desempenho dos mercados de trabalho deve ser mais favorável, especialmente na América Central. Na Costa Rica, a expectativa é de que a taxa de desemprego do primeiro semestre tenha passado de 9,5% para 8,6% entre 2016 e 2017, e no Panamá, de 6,5% para 6,4%.

Os dados fazem parte da última edição da publicação conjunta “Conjuntura Laboral na América Latina e no Caribe”, na qual CEPAL e OIT resumem o comportamento do mercado de trabalho da região durante o primeiro semestre e analisam a transição dos jovens — um dos grupos mais afetados pela deterioração econômica — do sistema educativo para o mercado de trabalho.

Segundo os dois organismos da ONU, durante a primeira metade de 2017 foram registradas duas tendências: apesar de ter se mantido a piora de alguns indicadores laborais, como as taxas de ocupação e de desemprego, constatou-se um menor ritmo de deterioração, o que pode indicar uma “luz no fim do túnel”.

As cifras apresentadas pelo relatório mostram uma diminuição da taxa de ocupação urbana (proporção da população em idade de trabalhar que se encontra ocupada) de 0,3 ponto percentual e um aumento da taxa de desemprego urbano de 0,9 ponto entre o primeiro semestre de 2016 e o mesmo período de 2017 na região.

De acordo com as agências das Nações Unidas, a fragilidade dos mercados de trabalho da região também se reflete na qualidade do emprego. Em seis de oito países com informação disponível, a criação de emprego por conta própria foi mais dinâmica que a criação de emprego assalariado durante o primeiro semestre de 2017.

Também se constata um estancamento da criação de emprego em vários países da América do Sul (Argentina, Chile, Peru, Uruguai), enquanto na América Central e no México esta variável mostrou maior dinamismo. Finalmente, os salários reais do emprego formal aumentaram em seis países (Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Nicarágua e Uruguai), enquanto caíram em dois (México e Peru).

Em relação aos jovens, o relatório indicou que este grupo geralmente enfrenta problemas estruturais de inserção no emprego produtivo e no trabalho decente.

“Comprova-se que as trajetórias de transição para o mercado de trabalho na região são, em geral, bastante mais longas que nos países desenvolvidos. Sobre esse fenômeno influi em grande medida o comportamento das mulheres, que desempenham ainda um papel fundamental nas atividades de cuidado e do lar”, disseram Alicia Bárcena, secretária-executiva da CEPAL, e José Manuel Salazar, diretor regional da OIT, no prólogo da publicação.

O estudo aprofundou a análise do perfil dos jovens que estudam e trabalham segundo o grupo etário, encontrando algumas diferenças significativas. Por exemplo, entre os adolescentes de 15 e 19 anos, há uma grande proporção de jovens estudantes que trabalham para contribuir para a renda de seu lar.

Por outro lado, os subgrupos de 20 a 24 anos e de 25 a 29 anos, entre os jovens que combinam o trabalho e o estudo, predominam os já inseridos plenamente no mercado de trabalho e que realizam estudos no nível pós-secundário como insumo-chave para uma trajetória laboral ascendente.

O documento aborda também os programas e políticas que foram implementados na região para fomentar uma melhor transição entre a educação e o trabalho e incrementar a empregabilidade dos jovens. Estes estão focados tanto em aspectos da oferta (formação, capacitação, guia de carreira e laboral, subsídio para transporte, cuidado
etc), como da demanda (subsídios salariais, incentivos para empreendimento), assim como na melhora dos sistemas de intermediação laboral.

As avaliações desses programas encontram impactos positivos tanto na empregabilidade como nos salários, principalmente para os grupos mais vulneráveis, de menores rendas e níveis de instrução.

No entanto, CEPAL e OIT advertem que é necessário avançar na coleta de informação estatística tanto para analisar aspectos como a desigualdades de gênero ou de qualificação, como para monitorar melhor os programas existentes e realizar avaliações de impacto para incorporar os ajustes que forem necessários.