A chegada da GWM e o futuro da mobilidade no Brasil – Por Rafael Gontijo

Rafael Gontijo

Advogado e consultor sênior das frentes parlamentares BRICS e Brasil-China do Congresso Nacional

No dia 27 de janeiro, representando as frentes parlamentares Brasil-China e BRICS do Congresso Nacional, tive a honra de participar, no município de Iracemápolis/SP, de um momento histórico para a indústria automotiva no Brasil: a inauguração das instalações industriais da maior montadora de veículos automotivos de capital 100% privado da China, a Great Wall Motors, conhecida globalmente pela sigla GWM.

Após aproximadamente 12 anos de análises sobre o mercado brasileiro, a gigante chinesa decidiu aqui se instalar. A companhia pretende comercializar no Brasil os primeiros veículos, que serão importados, a partir do último trimestre deste ano. A produção brasileira, por sua vez, se iniciará a partir do segundo semestre de 2023 e será exclusiva de SUVs e picapes.

A empresa irá investir R$ 10 bilhões na operação brasileira, sendo R$ 4 bilhões do presente ano até 2025 e R$ 6 bilhões de 2026 até 2032. Até 2025, 2 mil empregos diretos e 8 mil empregos indiretos serão criados. Indubitavelmente, os números citados irão dinamizar a economia do estado de São Paulo e, em especial, de toda a região de Iracemápolis. 

Por meio do investimento mencionado, a GWM demonstra algo de suma importância: confiança em relação ao futuro do Brasil. É sabido que existe um estreito vínculo entre a alocação de capital estrangeiro produtivo de longo prazo e a tão almejada geração sustentável de emprego e renda. Assim sendo, o início das atividades da companhia no Brasil é uma notícia a ser celebrada pelo povo brasileiro. 

Duas forças motrizes claramente movem a GWM: inovação e sustentabilidade. No que tange à primeira, vale ressaltar que a busca pelo desenvolvimento de novas tecnologias a serviço de uma mobilidade mais funcional e inteligente norteia o cotidiano da empresa em escala global. No que se refere à segunda, é fundamental salientar que a fabricação de veículos elétricos já faz parte do presente da empresa, e tende a crescer exponencialmente em um futuro próximo. O respeito ao meio ambiente é, portanto, valor basilar na estratégia comercial desta que é a maior vendedora de SUVs e picapes da China.

Durante sua exposição, o diretor comercial da operação brasileira da GWM, Oswaldo Ramos, mencionou que uma pesquisa mercadológica realizada pela KPMG atestou que 43% dos consumidores brasileiros pretendem possuir carros eletrificados. Como se percebe, o potencial de crescimento desse segmento é bastante expressivo.

Sendo a GWM uma fiel apoiadora da agenda de respeito ao meio ambiente, é fundamental ressaltar que serão produzidos nacionalmente apenas veículos elétricos e híbridos, tendo em vista que modelos movidos exclusivamente à combustão são considerados obsoletos e não fazem parte da estratégia comercial da empresa para o Brasil.

A partir de 2025, a empresa pretende produzir 100 mil veículos anualmente na fábrica de Iracemápolis, que possui 1,2 milhão de metros quadrados e anteriormente pertencia à Mercedes-Benz. Além de atender ao mercado nacional, a empresa pretende utilizar o Brasil como um hub de exportação para outros países da América Latina e para os EUA, considerando que a tarifa de importação desse país é de apenas 2,5%, como bem lembrou o diretor de relações governamentais da GWM Brasil, Pedro Bentancourt, durante sua apresentação.

O Brasil será o quarto país no qual a empresa fabricará seus veículos. Além da China, a GWM tem presença fabril na Tailândia e na Rússia. Cabe enfatizar que a totalidade dos veículos fabricados no Brasil contará com recursos tecnológicos de ponta (conectividade 5G, direção semiautônoma e inteligência artificial).  

A companhia prevê que sua operação brasileira, a partir de 2025, gere um faturamento anual de R$ 30 bilhões. Também merece destaque o meritório projeto de apoio à cadeia brasileira de fornecedores. A GWM Brasil estabeleceu uma meta, a ser cumprida a partir de 2025, de 60% de nacionalização de peças em seus veículos. De acordo com Oswaldo Ramos, a empresa pretende ter uma rede de concessionárias de 130 unidades, em 112 cidades do território nacional, em pelo menos 15 metrópoles. O executivo também afirmou que o plano da companhia é lançar 10 modelos em 3 anos.

O valor do investimento (R$ 10 bilhões) a ser alocado no estado de São Paulo habilita a companhia a se beneficiar do IncentivAuto (programa do governo do estado de São Paulo, criado em 2019, de fomento ao setor automotivo). A companhia faz jus a um desconto de até 25% de ICMS. Como se pode facilmente presumir, o planejamento tributário está no bojo da estratégia de investimento da companhia.

O fato de a GWM ser a primeira montadora chinesa de veículos automotivos a ser admitida na Comissão Internacional de Hidrogênio atesta que o farol da companhia está direcionado para o futuro da tecnologia. No Brasil, a interlocução com instituições acadêmicas de excelência comprovada, como a UNICAMP, já foi iniciada, visando o desenvolvimento de parcerias que permitam converter etanol em fonte de geração de hidrogênio para a locomoção dos veículos. Resta claro que a GWM chegou com a ambição de revolucionar os conceitos de mobilidade vigentes no país. O Brasil, em suma, só tem a ganhar com o advento da gigante chinesa.

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