À medida que o Brasil busca reformular sua economia com uma visão de longo prazo centrada na expansão da energia renovável e no desenvolvimento da infraestrutura digital, o país está cada vez mais voltado para a China, seu colega membro fundador do BRICS.

A crescente colaboração entre os dois países nesses setores tornou-se cada vez mais evidente nos últimos meses, culminando em maio deste ano, quando o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, fez uma visita de Estado de cinco dias à China. Sua viagem coincidiu com a quarta reunião ministerial do Fórum China-Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), realizada em Beijing, em 13 de maio.

Essa parceria cada vez mais profunda foi reforçada por uma série de novos acordos e projetos de cooperação. Durante sua visita, Lula anunciou dois acordos importantes com o objetivo de acelerar a transição do Brasil para uma economia mais verde e mais conectada digitalmente.

O primeiro acordo com o Envision Group da China envolve um investimento de US$ 1 bilhão para produzir combustível de aviação sustentável a partir da cana-de-açúcar no Brasil. O segundo abrange uma parceria entre o Windey Energy Technology Group e o Senai Cimatec do Brasil para estabelecer um centro de pesquisa e desenvolvimento de energia renovável. Lula também anunciou que a China investirá mais US$ 4,76 bilhões no Brasil.

Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de gestão financeira da Fundação Getulio Vargas, disse que a China vem expandindo constantemente suas parcerias globais.

“Temos visto um aumento no comércio e nos intercâmbios entre a China e vários países, à medida que busca alavancar sua vasta capacidade tecnológica e financeira para expandir a cooperação globalmente.”

“Tanto o Brasil quanto a China são membros fundadores do grupo BRICS, um fato que ‘facilita muito essa parceria'”, disse ele.

RESPEITO PELO RITMO

Após uma década desafiadora, o Brasil está trabalhando para reanimar sua economia. “O Brasil agora busca recuperar e modernizar seu setor industrial com parceiros que respeitem seu ritmo e horizonte de desenvolvimento”, disse Luan Scliar, diretor executivo da iBRICS+, uma plataforma focada em facilitar parcerias, particularmente no âmbito do BRICS.

“Ao assinar esses novos acordos com a China em energia e infraestrutura, o Brasil está se posicionando como um participante estratégico de longo prazo, em vez de apenas um destinatário de investimentos pontuais.”

Esse planejamento estratégico de longo prazo surgiu como um tema frequente, juntamente com um foco renovado no fortalecimento dos laços com a China.

Em meados de abril, o ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira, visitou a China para promover oportunidades de investimento no Brasil em infraestrutura digital e centros de dados.

Vários acordos e negociações surgiram na sequência dessa visita. Um acordo potencial, divulgado no final de abril, poderia levar a Byte-Dance, empresa controladora do TikTok, a investir em um centro de dados de 300 megawatts no Porto de Pecém, no estado do Ceará. Com acesso a cabos submarinos e energia eólica renovável, a instalação poderia eventualmente chegar a 1 gigawatt.

PARCERIAS DE MOBILIDADE

O Brasil é há muito tempo o principal destinatário de investimentos chineses na América Latina, atraindo US$ 73,3 bilhões em 264 projetos de 2007 a 2023, de acordo com o Conselho Empresarial China-Brasil.

“O Brasil está voltando seus olhos tão decididamente para a China porque a vê não apenas como uma fonte de financiamento, mas também como um parceiro disposto a investir na formação de talentos tecnológicos, no estabelecimento de cadeias de produção locais e no desenvolvimento de modelos de financiamento inovadores”, disse Scliar.

A abordagem pragmática da China de cooperação direta, sem condições políticas ou fiscais, dá ao Brasil autonomia para definir suas prioridades em iniciativas importantes, como o Programa de Aceleração do Crescimento, o Plano de Transformação Ecológica e o Plano Nova Indústria Brasil, disse ele.

“A China se tornou o parceiro preferencial do Brasil para investimentos estratégicos em setores emergentes, como carros elétricos e centros de dados. Isso se deve em grande parte ao fato de a China compreender a situação atual do Brasil e demonstrar forte interesse em construir parcerias duradouras.”

Fonte: Portuguese News