O movimento do presidente Bolsonaro em mudar o titular do Ministério da Saúde com o anúncio do cardiologista Marcelo Queiroga para o cargo teve um objetivo principal: tentar se distanciar do desgaste político e eleitoral no enfrentamento da pandemia da Covid-19 no Brasil que já caminha para as 300 mil mortes.
Mudança de nome no comando da pasta da Saúde, onde sai um general da ativa e entra um médico, não é mudança de rumo na saúde. Aparentemente o presidente Bolsonaro está trazendo alguém para continuar sendo seu testa-de-ferro no ministério e ignorando o que realmente precisa ser feito no Brasil.
Ao descartar Pazuello e recolocar um médico na pasta, a estratégia foi dar um verniz científico de que haverá uma condução técnica na Saúde. No entanto, os últimos movimentos de Bolsonaro explicitaram que, apesar da mudança, ele estará no comando de todas as decisões.
O manejo desta pandemia do covid-19 pelo governo federal até agora não tem sido próspero. Do negacionismo presidencial até a incompetência operacional para a compra da vacina no seu tempo, só desnuda a direção trágica escolhida pelo Executivo para lidar com a crise sanitária.
A rejeição da gestão de Bolsonaro na pandemia, tem a sua pior marca desde que a crise sanitária começou, há um ano. O Instituto de Pesquisas Datafolha informa hoje, que para 54% dos entrevistados, a atuação do presidente é ruim ou péssima e 43% consideram Bolsonaro o maior culpado pela crise.
O Brasil vive o pior momento da pandemia, sem sinais de luz no horizonte. As políticas nacionais de coordenação para enfrentamento são frágeis e a vacinação avança muito lentamente.
O Brasil teve mais um dia (16mar) de recordes trágicos, com o registro de 2.798 mortes por Covid, o maior número de vidas perdidas em 24 horas de toda a pandemia. O valor significa quase 1 morte a cada 30 segundos.
Um número que é comparável ao de mortos no ataque às Torres Gêmeas (2.750), em 11 de setembro de 2001, na cidade de Nova York. O país completa 18 dias seguidos de recorde da média móvel de óbitos. Ultrapassou a média móvel de mortes dos EUA, país que tem o maior número de óbitos e casos de Covid no mundo e uma população maior que a brasileira.
Na última semana, a cardiologista Ludhmila Hajjar chegou a ser indicada para ocupar o cargo, mas recusou o convite sob a alegação de que diverge do presidente na condução da pandemia.
A própria recusa de Ludhmila foi um sinal de que para ocupar a pasta, o novo titular teria que pagar um pedágio. Ou seja, não contrariar o presidente com críticas ao tratamento com cloroquina e muito menos defender medidas de isolamento social.
Segundo interlocutores do presidente, a condição para escolher Queiroga está na certeza de que o médico obedecerá às suas determinações, como acontecia com Pazuello. Não se sabe qual será o caminho de Queiroga. Ainda na memória o que aconteceu com Nelson Taich, que pediu o boné e foi embora.
As expectativas para as próximas semanas não são boas, com o aumento de perdas de vidas.
Vivemos um momento gravíssimo na Economia, com a inflação e desemprego em alta, o dólar disparando e o Banco Central provavelmente tendo de aumentar os juros.
A vacinação anda muito lenta e as pessoas estão morrendo em números alarmantes. Isso afasta ainda mais a retomada do crescimento.
Resta a nação, aguardar os próximos passos.
O que se espera mesmo do mandatário da nação é que tenha uma atitude e mude o seu comportamento. Faça coro com a maioria dos brasileiros, que siga a ciência, tome a vacina e pratique o distanciamento social.
Já vimos isso acontecer com o presidente Donald Trump nos Estados Unidos e com Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido. E por que não com Bolsonaro!
QUEM É O MINISTRO
Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Marcelo Queiroga será o quarto ministro da Saúde desde o começo da pandemia de Covid, há pouco mais de um ano. Queiroga é defensor da vacinação contra Covid. Em maio, a SBC, presidida por Queiroga, recomendou que a cloroquina, a hidroxicloroquina e azitromicina não fossem usados contra o novo coronavírus.
Em abril de 2020, falou sobre a importância do isolamento social: “O isolamento social visa a reduzir aquele pico de pessoas que precisam de internação hospitalar. É uma medida recomendada pelas autoridades sanitárias de uma maneira homogênea”. E também defendeu o Sistema Único de Saúde: “Fortalecimento do SUS – esse é o recado que essa pandemia traz para todos nós brasileiros”.
O cardiologista é muito próximo da família Bolsonaro, principalmente do senador Flávio Bolsonaro.
Formação
Marcelo Queiroga é natural de João Pessoa. Formado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba, fez residência em cardiologia no Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro. Tem especialização em cardiologia, com área de atuação em hemodinâmica e cardiologia intervencionista.
Em dezembro do ano passado, Queiroga foi indicado por Bolsonaro para ser um dos diretores da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A indicação ainda não foi votada pelo Senado Federal.