Não é preciso ser feliz para recomeçar, de Fernando Guimarães
Considerações sobre uma epidemia
Em média-metragem resultado de uma pesquisa das linguagens literária, dramatúrgica e cinematográfica, o novo trabalho do diretor Fernando Guimarães traz para a Mostra Dulcina personagens que relatam histórias de isolamento
“Sei que o homem é capaz de grandes ações. Mas se não for capaz de um grande sentimento, não interessa.” (A Peste, Albert Camus)
Não é preciso ser feliz para recomeçar, filme demédia-metragem dirigido por Fernando Guimarães traz relatos de personagens confrontados com um dilema ético: sair de uma cidade para escapar da doença, esperar passivamente seu fim ou se engajar na luta contra uma epidemia. As situações relembradas pelas personagens se iniciam quando uma cidade começa a sofrer com um vírus. A doença faz com que subitamente milhares de animais – ratos – saíssem de suas tocas e morressem ao sol. Em seguida os homens começaram a ser contagiados. O trabalho integra programação da 31ª edição da Mostra Dulcina que este semestre acontece no Instagram @facdulcina, no Facebook. Não é preciso ser feliz para recomeçar estará disponívelno canal Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, no YouTube, de 03 a 17 de julho de 2020, aberto ao público, gratuitamente.
“Resolvemos pesquisar obras correlatas à nossa situação atual, tais como Decameron, de Boccaccio; Um Diário do Ano da Peste, de Daniel Dafoe; Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago foram consideradas”, conta o diretor Fernando. Mas as relações estabelecidas pelo grupo com A Peste, do Prêmio Nobel de Literatura em 1957, Albert Camus (1913-1960) foi unânime para a escolha do texto.
O que interessava a Camus era o caráter simbólico da obra que tornava a peste como metáfora para todas as formas de opressão e de resistência — o nazismo, o pós-Guerra e outros males. Tanto os flagelos totalitários quanto as pandemias reais que, de tempos em tempos surgem, “para a desgraça e ensinamento dos homens”, constata um dos personagens de A Peste.
De acordo com o professor da Universidade de São Paulo (USP), Arnaldo Godoy, “A Peste é um romance que trata da solidariedade que a todos devemos, da liberdade de escolha e da responsabilidade sobre nossas escolhas.
“Sempre foi desafiador operar em um projeto cuja a tônica era o hibridismo. E em Não é preciso ser feliz para recomeçar não foi diferente. Performance, literatura e artes visuais. Eu nunca considerei, em trabalhos anteriores, privilegiar uma linguagem artística específica. Acredito ser inevitável que as estéticas se unam. Neste projeto trabalhamos basicamente com literatura e cinema. Os resultados geraram surpresas e apreensões”, reflete Guimarães.
Para o projeto foi utilizado o modelo dramatúrgico de Decameron – relatos de pessoas que vivenciaram a experiência do isolamento naquele período, Europa do século XIV: Como se deram os novos códigos de relações interpessoais, o espaço ocupado, a falta de informações, por exemplo, tal como hoje. E o docudrama Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho que discute a veracidade das narrativas vivenciadas ou não serviram também de inspiração”, complementa Guimarães.
No projeto Não é preciso ser feliz para recomeçar buscou-se desenvolver um humanismo baseado na consciência do absurdo da condição humana e ainda ao flagelo na banalidade do cotidiano, a exemplo de Camus.
Com todos nós participando de um isolamento social é prazeroso ver acontecer 31a Mostra Dulcina, que necessitou se rearranjar em novos territórios nessas incertezas atuais. Parodiando Samuel Beckett, Em Dias Felizes (!); “as coisas têm vida própria”.
Sobre a diretor
Fernando Guimarães, artista visual, diretor de teatro e professor. Há vinte anos com o irmão Adriano Guimarães pesquisam a relação da palavra e da imagem no teatro e nas artes visuais. Suas peças e exposições foram apresentadas em mais de 20 estados brasileiros e em vários países.
De 1989 a 2019 produziram e dirigiram mais de 60 espetáculos, notadamente de autores como Samuel Beckett, William Shakespeare e Nelson Rodrigues, Participaram de vários festivais internacionais como Principe 54, na Espanha, Festival de Avignon, na França, e Festival de Aahurs, na Dinamarca. Cinco vezes os seus projetos foram indicados ao Prêmio Shell Rio e São Paulo e uma vez vencedores.
De 1989 a 2019 participaram de mais de 20 exposições como HiPer// relações eletro digitais//, RS, Panorama da Arte Brasileira – Desarrumado 19 Desarranjos, em SP, RJ, na Espanha e Colômbia, Rede de Tensão, Bienal 50 Anos, SP, The Theatre of Installationn, Museum of Installation, Londres. Em 2013, apresentaram o projeto Cheio/Vazio, na Feira do Livro de Frankfurt, Alemanha.
Serviço:
Direção e concepção | Fernando Guimarães
Dramaturgia | Direção e elenco, a partir da obra A Peste, de Albert Camus
Intérpretes | Alex Ribeiro, Anderson Sali, Bete Virgens, Gutenberg Lima, Leonardo Vieira Teles, Luana Coelho e Raquel Mendes.
Participação especial | Adair Oliveira e Rafael Justus
Filmagem, edição e finalização | Thales Alves
Transmissão | Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, no YouTubehttps://www.youtube.com/channel/UCPkL98Bcj0lr2XV-6Tfizjg?view_as=subscriber
Instagram | @facdulcina
Facebook | @facdulcina
Produção Executiva | Shayana VillardoTemporada | de 03 a 17 de julho, conteúdos disponibilizados