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Há dez dias, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu um cessar-fogo global imediato para que pessoas em regiões devastadas por guerras recebam ajuda para combater a pandemia do novo coronavírus.
Segundo Guterres, o apelo foi endossado até agora por 70 Estados-membros, parceiros regionais, atores não estatais e outros.
Mas ele reconheceu as “enormes dificuldades” na implementação de uma trégua para deter conflitos que se deterioram há anos, nos quais “a desconfiança é profunda”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, realiza coletiva de imprensa virtual sobre o impacto de seu apelo por um cessar-fogo global durante a pandemia de COVID-19. Foto: ONU/Loey Felipe
Hoje deve haver apenas uma luta em nosso mundo, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, nesta sexta-feira (3), fazendo um apelo para que todos se unam à “nossa batalha compartilhada contra a COVID-19”.
Há dez dias, Guterres pediu um cessar-fogo global imediato para apoiar as pessoas em regiões devastadas por guerras a combater a pandemia de coronavírus.
“Sabemos que a pandemia está tendo profundas consequências sociais, econômicas e políticas, inclusive relacionadas à paz e à segurança internacionais”, disse o chefe da ONU, em uma coletiva de imprensa virtual descrevendo o impacto até agora do apelo ao cessar-fogo.
Ele citou restrições ao movimento feitas pelos governos em todos os lugares e fatores que poderiam contribuir para o crescente descontentamento e tensões políticas, mas sustentou que “o apelo global ao cessar-fogo está ressoando em todo o mundo”.
Ele disse que o apelo foi endossado por 70 Estados-membros, parceiros regionais, atores não estatais e outros.
“Os líderes religiosos – incluindo o papa Francisco – acrescentaram sua voz moral ao apoio a um cessar-fogo global, assim como os cidadãos, por meio da mobilização popular online”, disse ele a jornalistas.
Transformando palavras em ações pela paz
Embora um número substancial de combatentes e milícias tenha aceitado o chamado, o chefe da ONU enfatizou que “existe uma grande distância entre declarações e atos – em traduzir palavras na paz no terreno e na vida das pessoas”.
Ele reconheceu as “enormes dificuldades” na implementação de uma trégua para deter conflitos que se deterioram há anos, nos quais “a desconfiança é profunda”, e disse que “qualquer ganho inicial é frágil e facilmente reversível”.
O chefe da ONU observou que, em muitas situações críticas, não houve interrupção nos combates e, em algumas, os conflitos se intensificaram.
“Precisamos de esforços diplomáticos robustos para enfrentar esses desafios”, afirmou. “Para silenciar as armas, devemos levantar as vozes pela paz”.
Impulso diplomático intenso
Guterres explicou que ele e seus enviados estão envolvidos com atores em conflito para ajudar a impulsionar um cessar-fogo.
Enquanto o enviado especial da ONU no Iêmen trabalha para convocar as partes para discutir o gerenciamento da crise de COVID-19 e os mecanismos nacionais de cessar-fogo, o conflito disparou – apesar do apoio expresso a uma trégua pelo governo e pelas partes em guerra.
“Peço a todos os governos e movimentos envolvidos e seus apoiadores que ponham fim ao conflito catastrófico e ao pesadelo humanitário – e cheguem à mesa das negociações”, disse o chefe da ONU.
Síria, Líbia e Afeganistão
Na Síria, onde as primeiras mortes relacionadas ao COVID foram relatadas, o enviado especial da ONU apelou a um cessar-fogo nacional “completo e imediato” para permitir “um esforço total contra a COVID-19”.
Em relação à Líbia, embora as partes em conflito tenham recebido pedidos para interromper os combates, os confrontos aumentaram drasticamente em todas as linhas de frente, obstruindo os esforços para responder efetivamente à COVID-19.
“Peço a ambas as partes, e a todas as outras partes direta e indiretamente envolvidas no conflito, que interrompam imediatamente as hostilidades para permitir que as autoridades tratem efetivamente a ameaça da COVID-19”, destacou Guterres.
No Afeganistão, uma equipe de 21 membros foi anunciada na semana passada para negociar diretamente com o Talibã, e foram estabelecidos contatos técnicos para a libertação inicial de prisioneiros.
Prometendo seu total apoio, o secretário-geral declarou acreditar que “chegou a hora de o governo e o Talibã cessarem as hostilidades enquanto a COVID-19 paira sobre o país”.
Para todas as nações em conflito, o chefe da ONU fez um apelo especial àqueles com influência nas partes em guerra “para fazer todo o possível para que o cessar-fogo se torne realidade”.
Ele apelou a “todos aqueles que podem fazer a diferença, a fazer a diferença”, instando e pressionando os combatentes de todo o mundo a depor as armas.
Observando que há uma chance de paz, Guterres afirmou: “mas estamos longe disso”.
COVID-19 ofusca conflitos
“A necessidade é urgente”, disse ele, lembrando que “a tempestade COVID-19″ está chegando a todos esses países afetados por conflitos.
No contexto de um coronavírus se movendo rapidamente através de fronteiras, cobrando vidas e devastando países, Guterres projetou que “o pior ainda está por vir”.
“Precisamos fazer todo o possível para encontrar a paz e a unidade de que nosso mundo precisa desesperadamente para combater a COVID-19”, concluiu o secretário-geral. “Devemos mobilizar toda a energia para derrotá-la.”
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