O xadrez geopolítico no Oriente Médio: desafios e oportunidades

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O tabuleiro geopolítico do Oriente Médio agrega três eixos de análise: passagens marítimas; ênfase no Magreb, no Levante, estendendo-se para os países asiáticos, englobando a Arábia Saudita; e a projeção global do Irã, muito além de sua projeção tradicional. Ressalte-se a força proxy e guerra proxy como termos bastante utilizados em análises geopolíticas nos últimos anos. A própria guerra entre Rússia e Ucrânia é apontada por alguns como sendo uma “proxy war”, onde os ucranianos estariam representando os norte-americanos, alemães e ingleses, entre outros.  Um estudo recente publicado na Escola de Guerra Naval menciona essa interessante estratégia militar, que é utilizada pelo Irã, com ênfase no ataque direto do país contra Israel em abril de 2024, que marcou um ponto de inflexão, ilustrando como suas “forças proxy” e estratégias assimétricas desempenham papéis centrais no equilíbrio de poder regional.

A estratégia do Irã visa expandir seu relacionamento com outros países, sua capacidade de poder e processo de alteração rápida. A Força Quds, em particular, tem a capacidade de expandir sua influência na região, administrando, treinando e planejando o emprego de proxies não apenas por um mero alinhamento de interesses, mas através de laços culturais que transcendem a política. O esforço de se alinhar a um proxy passa por essa análise, superando a mera diplomacia e expandindo os vínculos religiosos e culturais.

É nesse sentido que se ressalta a invasão brutal da Ucrânia pela Rússia, e como o Kremlin também continua a semear caos e perturbação em outros lugares da Europa. Na região do Mar Negro, a Rússia tem relevante influência na política, inserindo-se em eleições democráticas. São frequentes as operações de influência do Kremlin, sempre adaptadas ao ambiente. O governo da Geórgia atende aos seus interesses, fornecendo apoio retórico à manipulação das eleições pelo governo georgiano e à supressão de protestos, evitando o tipo de intervenção direta que desencadearia uma reação da sociedade civil pró-ocidental da Geórgia. Na Romênia e na Moldávia, a Rússia tentou endossar secretamente seus candidatos favoritos.

Moscou tem sido amplamente passiva, mas age na ampliação de suas relações com a África, em especial o Afeganistão, ator pivotal no Grande Oriente Médio, interagindo com Iêmen, dentre outros. A Arábia Saudita se projeta para o Iêmen, delineando sua defesa e projeção de poder: status quo internacional. O terceiro ator regional é a Turquia, ator cada vez mais relevante no Oriente Médio, integrando-se com outros países. A Turquia se desenvolveu com um contexto do desenvolvimento kemalista, e se projetou junto à União Europeia, expandindo sua força numa guerra assimétrica, ao combater as forças do ISIS no norte do país.

No encontro entre o Secretário de Estado dos EUA Anthony Blinken e o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, em 13/10/2024, foi pontuada a necessidade de esforços contínuos para combater qualquer ressurgimento do Estado Islâmico na Síria após a queda do presidente Bashar-al Assad.

No que tange à guerra da Ucrânia, o país utilizou mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos para atacar diretamente o território russo. A mudança de postura do governo de Joe Biden rompeu com a política anterior de restringir o uso do sistema Atacms a alvos em territórios ucranianos ocupados, marcando um momento decisivo no conflito. Vislumbra-se um apoio do Presidente Donald Trump ao país. A estratégia do presidente dos EUA para fortalecer a paz na Ucrânia assume contornos cada vez mais definidos, com a Otan e a Europa exercendo papel de coadjuvantes. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu homólogo russo, Vladimir Putin, conversaram ao telefone por uma hora e meia no dia 12/02/2025. Desdobramentos mostram o chefe do Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia (SVR), Sergei Narishkin, em pronunciamento à imprensa internacional, descrevendo o diálogo como “profundo e significativo”. Pouco antes, o secretário de Defesa de Trump, Pete Hegseth, havia informado aos parceiros da Otan sobre os pilares da nova política dos EUA para a Ucrânia, com um acordo de paz apoiado por tropas internacionais.

A comunidade internacional surpreendeu-se com a pronta decisão política da Ucrânia, ao utilizar-se do sistema de mísseis Atacms, fabricado pela Lockheed Martin, que tem alcance de até 300 km e pode atingir alvos com precisão, tornando-o uma arma crucial para operações de longo alcance. As versões disponíveis permitem o uso de ogivas de alto impacto ou cluster, ambas letais contra concentrações de tropas e infraestruturas estratégicas.

Os ataques ocorreram na região de Bryansk, um dia após os Estados Unidos darem autorização oficial para o uso dos mísseis. A ação teria danificado uma instalação militar russa, de acordo com informações do Ministério da Defesa de Moscou. O impacto estratégico do ataque foi uma surpresa para os inimigos.

 Estratégias militares ressaltam as ações pontuais de Israel, ator importante na região, com suas armas nucleares, principalmente após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que contabilizou mais de 1.300 mortos. Foi o pior atentado terrorista no mundo desde o 11 de Setembro de 2001, e o maior ataque já sofrido por Israel dentro de seu próprio território.

Logo antes do amanhecer, integrantes do Hamas na Faixa de Gaza usaram drones carregados com explosivos para destruir torres de vigilância e veículos militares desprotegidos na fronteira. A primeira linha de defesa de Israel havia sucumbido, e os terroristas iniciaram uma invasão por terra, água e ar, acompanhada pelo disparo de milhares de foguetes. O ataque elucidou uma das maiores falhas dos serviços de inteligência de Israel, comparável à ocorrida 50 anos antes, quando a Síria e o Egito lançaram um ataque surpresa na Guerra do Yom Kippur. Por volta das 6h30 da manhã, as autoridades israelenses se deram conta do ataque e acionaram as sirenes de alerta.

Em outras partes da região, o Hamas usou explosivos e tratores para romper a cerca na fronteira e infiltrar Israel. Na cidade de Sderot, moradores gravaram a ação dos invasores. Os terroristas apareceram em uma camionete, vestindo uniformes pretos e faixas brancas na cabeça, e atiraram indiscriminadamente contra civis. Na estrada que dá acesso a Sderot e nas ruas da cidade, foram encontrados 20 corpos.

Nos dias que se seguiram, surgiram notícias de ataques ainda mais sangrentos na região. Um dos piores massacres ocorreu no kibutz de Be’eri, onde foram encontrados 108 corpos. Após a retomada do local, militares israelenses autorizaram a entrada de repórteres e fotógrafos, que viram prédios destruídos, incendiados e com marcas de bala na parede.

Massacre em local de rave organizada por brasileiros, com mais de 260 mortos. Para além das infiltrações por água e terra, houve pelo menos um ponto em que terroristas usaram paramotores (parapentes com hélices na traseira) para sobrevoar a cerca na fronteira. Foi assim que atacaram a rave Universo Paralello, evento organizado por brasileiros em um local a cerca de 5,5 km da Faixa de Gaza.

Ênfase aos novos sistemas de armas, com drones e mísseis, aprofundamento de aprendizagem, e o elemento de médio e longo prazos. O Hamas é um partido político, e os israelenses não sabem o que é pior se o Hamas ou Fatah.

A questão nuclear é de grande importância para a região, o que tornaria muito difícil gerenciar os conflitos e os ataques aos países vizinhos. É preciso que haja uma coalizão nuclear envolvendo vários países.

Do ponto de vista da Política Externa do Brasil, as autoridades governamentais devem agir com moderação, para que não se perca o foco da paz, e nem às oportunidades comerciais, acadêmicas e tecnológicas, principalmente com projetos tecnológicos de alto valor agregado.