O encarregado de negócios da embaixada do Líbano no Brasil, George El Jallad, afirmou no final da manhã desta quarta-feira, 16 de outubro, em entrevista coletiva à imprensa convocada na sede da liga dos países árabes, em Brasília, que “o que está ocorrendo agora é uma guerra contra o Líbano”.
Para o representante do governo libanês no Brasil, que possui uma comunidade residente no país – incluindo os descendentes – de mais de sete milhões pessoas, “as forças de Israel estão promovendo um massacre contra a população civil libanesa” e isso é causado pela “impunidade” as “contínuas violações de todos os princípios internacionais” praticadas pelo Estado de Israel.
Há mais de três semanas, com a justificativa de combater o “terrorismo” do grupo político e paramilitar libanês Hezbollah – que integra o governo no Líbano – as forças armadas de Israel iniciaram uma série de ataques, bombardeios e invasão ao território daquele país do Oriente Médio, que possui uma comunidade brasileira superior a 22 mil pessoas – das quais mais de mil já foram repatriados ao longo da última semana num missão humanitária batizada de “raízes do cedro”.
“Nós estamos reunidos aqui hoje para expressar a solidariedade de todos os embaixadores Árabes em Brasília ao Líbano, e para dar mais informações sobre a atual situação no país após a agressão israelense. O que está ocorrendo agora é uma guerra contra o Líbano, sua soberania e integridade territorial. As forças de Israel estão promovendo um massacre contra a população civil libanesa. Tudo isso acontece diante da inação da comunidade internacional para encerrar as atrocidades e as flagrantes violações do direito internacional e do direito humanitário internacional por parte de Israel”, iniciou Jallad.
“Questiona-se se não estamos presenciando uma mudança na ordem mundial que deveria ser baseada no estado de direito e nos princípios da soberania do estado e da defesa do direito humanitário internacional e dos direitos humanos. Mais de 42 mil civis perderam suas vidas em Gaza em um genocídio brutal. As atrocidades israelenses contra os palestinos persistem há mais de um ano sem um esforço real da comunidade internacional para que cessem”, continuou o representante do governo libanês citando apenas dados oficiais registrados pelas Nações Unidas (ONU).
LANCET
Estimativas realizada pela revista científica britânica da área de saúde, “Lancet”, apontam que pelo menos o número de vítimas fatais desde que a ofensiva sionista iniciada em outubro de 2023 – há um ano – nos territórios palestinos ocupados por Israel superam quase 180 mil mortes, sendo a maioria de crianças, mulheres e idosos.
“Por causa dessa falta de esforço para dar fim a seus crimes, Israel decidiu lançar uma ofensiva contra o Líbano, tentando invadi-lo pelo Sul e atacando a população civil em todas as regiões, incluindo o norte. Para atingir seus objetivos, Israel vem atacando estruturas civis, áreas populosas, hospitais, jornalistas, mulheres e crianças. Nem funcionários, postos e forças de paz da ONU foram poupados desses ataques. Profissionais de saúde foram alvejados intencionalmente, impedindo que salvassem as vidas dos feridos. Além disso, foram usadas armas proibidas internacionalmente contra alvos civis”, complementou George El Jallad.
“Tais ações não podem se enquadrar nas alegações de autodefesa promovidas por Israel. São ações criminosas que caracterizam crimes de guerra e contra a humanidade. A autodefesa não se aplica quando uma entidade segue ocupando um território que não é seu. A autodefesa não se aplica quando Israel insiste em violar o espaço aéreo, marítimo e as fronteiras terrestres do Líbano mais de três mil vezes por ano desde muito antes dos incidentes de sete de outubro. Em todos os casos, a autodefesa deve ser proporcional. Por favor, considerem o número de mortes de ambos os lados para ver a narrativa enganosa de Israel”, continua o representante do governo libanês em sua denúncia contra os crimes praticados pelo Estado de Israel.
RASTRO DE DESTRUIÇÃO
O encarregado de negócios da embaixada libanesa no Brasil lamenta que o rastro de destruição provocada pelas forças armadas israelenses, desde o início das agressões ao território do Líbano, já alcançou 2350 mil mortes e mais de 11 mil feridos. “A maioria das vítimas é de idosos, mulheres e crianças. Nem mesmo as crianças brasileiras foram poupadas. Mais de 25% da população libanesa foi deslocada. Vilas e bairros inteiros foram destruídos”, relatou.
Em seu discurso, Jallad destacou que é preciso um “cessar fogo, já” para evitar o risco “a uma guerra ampla com repercussões desastrosas”.
“O governo libanês vem pedindo sem descanso por um cessar fogo. Encerrar essa guerra é de interesse regional e internacional, já que a continuação das ações israelenses pode levar a uma guerra ampla com repercussões desastrosas em todos os estados vizinhos. O governo libanês sempre demonstrou sua total conformidade com a resolução 1701 do conselho de segurança [da ONU] como forma de encerrar a guerra e decidiu recrutar soldados libaneses para enviar para o sul, apesar da severa crise econômica enfrentada pelo país. A resolução é considerada a primeira linha de defesa para o Líbano e uma obrigação para a comunidade internacional pela proteção de sua soberania, estabilidade e segurança. É também a base legal que preserva a segurança do Líbano e da região”, completou.
No final, o representante do governo libanês agradeceu o empenho do governo brasileiro “pelo apoio dado ao Líbano e ao seu povo”. “Agradeço especialmente aos colegas do Itamaraty, em particular àqueles que trabalham na Agência Brasileira de Cooperação (ABC), pela assistência no transporte de ajuda médica ao Líbano. Também expresso minha gratidão à comunidade árabe, especialmente à diáspora libanesa, e às suas instituições, que têm trabalhado duramente para ajudar o povo do Líbano, e a todos os brasileiros que apoiaram diversas iniciativas, como a ‘Unidos pelo Líbano’, lançada na embaixada do Líbano em Brasília”.
“Quero agradecer também aos consulados gerais, em especial ao de São Paulo, e aos consulados honorários, por todos os seus esforços. Por fim, agradeço aos embaixadores árabes, que deram todo o apoio possível à embaixada do Líbano nesse momento difícil. Muito já foi feito, mas ainda há muito mais a fazer devido à crescente necessidade de ajuda médica”, finalizou.