A Bancada Feminina da Câmara dos Deputados foi recebida na terça-feira pela Embaixadora da União Europeia no Brasil, Marian Schuegraf, no encontro “Unidas no Combate à Violência contra as Mulheres na Política em Contextos Eleitorais”. No evento, mediado pela jornalista Basília Rodrigues e com a presença de várias embaixadoras e autoridades, as deputadas relataram de forma emocionada alguns dos obstáculos enfrentados por elas na chegada e para a permanência nos espaços de poder.
Deputadas negras e trans relatam sofrer ameaças que colocam em risco seus mandatos, o que reforça o quanto a política brasileira e, especificamente, o Parlamento, ainda é um ambiente hostil a essas mulheres. As deputadas Erika Hilton (PSOL/SP) e Duda Salabert (PDT/MG), como primeiras deputadas federais trans da história, expuseram o quanto a discriminação e a violência política desestimulam a continuidade de seus mandatos. “As ameaças não são apenas para mim, e por isso me questiono muito se vale a pena, porque começo a ser um risco para a minha própria família. Penso em desistir todos os dias, e não faço isso pela minha filha, porque sonho com um futuro utópico em que haja igualdade para todas neste país”, relatou Duda Salabert.
A deputada também trouxe dados sobre a realidade do grupo que representa. “Representamos, Erika Hilton e eu, um grupo de pessoas que ainda quer a categoria de humanidade. Nossas demandas são por nome, banheiro e identidade. 90% das trans e travestis estão na prostituição. É quase compulsório. Quase 60% estão com HIV. Ou seja, não posso desistir por conta da luta dessa população”, ressaltou.
A deputada Carol Dartora (PT/PR) compartilhou os ataques que vem sofrendo desde que se elegeu. “Assim que cheguei à Câmara fui remetida à minha adolescência, a tipos de violência que eu não via desde a minha infância (…). Tive que lidar com as pessoas falando do meu cabelo, do meu corpo, da minha cor”, afirmou. A partir de sua própria experiência, ela manifestou sua preocupação com a saúde mental das mulheres que ingressam e permanecem na política institucional.
Durante o encontro, a Coordenadora-Geral da Bancada Feminina, Benedita da Silva (PT/RJ), reforçou a importância da luta coletiva para a sociedade ter avanços na representatividade e para combater a violência política que, segundo ela, é também física e psicológica. Ela defendeu que tanto pessoas negras quanto não negras precisam se engajar para eleger mulheres negras, que correspondem a 28% da população brasileira. Benedita também recordou situações de discriminação e violência sofridas ao longo de sua trajetória de mais quatro décadas na política institucional, destacando que seu papel como primeira mulher negra eleita como deputada federal consistiu em abrir essa possibilidade e servir de referência para que mais mulheres negras pudessem querer ingressar na política.
De modo semelhante, a Procuradora da Mulher, deputada Soraya Santos (PL/RJ), defendeu a importância de proteger a dignidade das mulheres na política através da promoção de sua autoestima e afirmou que o principal desafio da sua atuação junto às demais deputadas é vencer a política racista e misógina. Já a coordenadora-geral do Observatório Nacional da Mulher na Política, deputada Yandra Moura (UNIÃO/SE), revelou situações recentes de violência política e comentou que apenas se deu conta da gravidade dos fatos após a leitura dos resultados de uma pesquisa realizada pelo ONMP em parceria com a Universidade Federal de Goiás.
O jantar promovido pela Embaixada da União Europeia contou com as presenças da deputada Célia Xakriabá (PSOL/MG); da senadora Professora Dorinha Seabra (UNIÃO/TO); da Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves; da Vice-Governadora do Distrito Federal, Celina Leão; e da deputada distrital Paula Belmonte (Cidadania).
Fonte: CREDN.