Artigo Sobre Educação -Ronaldo Mota

 

Ronaldo Mota

 

Somos todos capazes de prever o futuro, mesmo porque assim o fazemos espontaneamente todos os dias. Seja quando planejamos nosso cotidiano, seja quando tentamos programar os próximos passos de nossas vidas. No entanto, rigorosamente, ninguém sabe o futuro. Mesmo assim, todos fazemos, quase que automaticamente, diagnósticos, projeções e previsões.

Particularmente sobre educação, não há sobre o futuro que nos aguarda uma síntese única e nem é possível um resumo consensual. Porém, os acadêmicos da Open University, no Reino Unido, propuseram uma interessante lista de novos termos educacionais, bem como inéditas teorias e práticas, que muito em breve farão parte de nosso cotidiano. Destaco a seguir uma dezena delas, que tendem a estar cada vez mais presentes em 2017:

 

  1. Aprendizagem via mídia social. Aprendemos o tempo todo e em todos os lugares. Fora da escola, ainda que o ensino seja menos formal, a aprendizagem, em alguns aspectos, pode ser melhor e mais rápida. Todos estão familiarizados com exemplos como Facebook ou Twitter, locais naturais de compartilhamento de fatos, ideias e opiniões, ainda que haja o risco inerente de informações imprecisas, incompletas ou parciais. Há experiências em curso, inclusive no Brasil, utilizando, com sucesso, os espaços do Facebook como ambiente central de aprendizagem, inclusive para turmas regulares. O mestre neste caso explora, de forma pioneira, seu papel de facilitador no estímulo ao engajamento, promovendo e organizando as discussões e fazendo a curadoria dos temas e das referências mais adequadas;

 

  1. Falha produtiva. Trata-se de um método de aprendizagem no qual aos educandos são apresentados problemas complexos para serem resolvidos, mesmo cientes de que provavelmente eles não dispõem ainda de todas as ferramentas. Antes de receberem qualquer instrução, eles exploram, de forma independente, as várias oportunidades de solução e falham, atestando que podemos aprender mesmo quando trilhamos caminhos supostamente errados. Os professores, vencidas as etapas preliminares, apresentam os conceitos mais relevantes e exploram os métodos de solução existentes;

 

  1. Aprender ensinando. Da mesma forma que os aprendizes aprendem com seus mestres, podem eles assumir o desafio de explicarem uns aos outros o que eles conseguiram aprender até então, ainda que nesta etapa embrionária a aprendizagem seja limitada e parcial. Tais tentativas colaboram na consolidação de conceitos e evidenciam as eventuais deficiências. O método é de relativamente fácil execução, podendo no limite envolver toda a turma, ou mesmo pessoas externas à turma. As tecnologias digitais são ferramentas essenciais na implementação deste método e a área da saúde é onde os resultados, até aqui, aparentam ser mais evidentes;

 

  1. Design thinking. Esta abordagem procura resolver problemas usando processos usualmente adotados por designers. Significa incluir nos processos etapas como experimentação, criação e modelagem, estimulando que as práticas gerem protótipos progressivos que viabilizem um processo contínuo de redesigning. Ou seja, envolvendo exercícios mentais e sociais, os usuários das soluções propostas contribuem de forma decisiva nas camadas de reanálises e de novas implementações;

 

  1. Aprendizagem com o coletivo. Contar com um número grande de opiniões e contribuições significa, cada vez mais, agregar valor. O estímulo à participação de amadores interessados ou de especialistas com vínculos eventuais com o projeto pode ser de extrema valia na procura das melhores soluções. Além disso, esporadicamente útil para arrecadar fundos ou obter elementos os mais diversos que gerem ou viabilizem soluções. Os campos de aplicação variam de identificação e estudos de pássaros à contagem coletiva de estrelas e galáxias. Projetos bem desenhados podem obter escala devida, portanto sucesso, via o envolvimento de comunidades inicialmente externas ao trabalho e que vão gradativamente sendo incorporadas;

 

  1. Aprendizagem com videogames. Aprender pode ser divertido, interativo e estimulante, especialmente contando com ferramentas e ambientes nos quais os aprendizes se sentem totalmente confortáveis. Os jogos podem ser utilizados tanto na formação inicial como na continuada. Uma empresa que pretenda adotar novas práticas e estratégias pode e deve desenvolver instrumentos próprios e específicos. Quem o faz hoje obtém taxas de sucesso muito acima do esperado, em geral.  Ao contrário de reforçar o isolamento, é plenamente possível, ao longo do processo, adaptar os jogos ao espírito de trabalho em equipe;

 

  1. Analítica da aprendizagem. Mais conhecida como learning analytics, permite conhecer bem o educando, colhendo dados de seu comportamento e, a partir desta caracterização, desenhar as melhores trilhas educacionais personalizadas.  É possível identificar educandos em faixas de risco de desistência em tempo hábil para corrigir rumos e abordagens. Destaque-se que cada vez mais o próprio educando participa ativamente da análise, dado que um dos objetivos principais da educação permanente ao longo da vida é que o estudante conheça cada vez mais como ele aprende, aumentando sua compreensão acerca dos mecanismos de aprendizagem que lhes são mais eficientes e eficazes;

 

 

Educação precisa levar em conta o futuro, expresso nas tendências acima e em tantas outras, e incluir esta preocupação explicitamente em seus processos. É consenso que quanto mais conhecemos sobre o que houve antes, bem como melhor entendemos o que está acontecendo agora, mais aptos estamos para tomarmos decisões sobre o que vem pela frente. E vem muito mais surpresas educacionais neste futuro tão próximo que parece ter começado no mês passado.

 

 

Compartilhe

Brasília in Foco