Meu poema respira quando pressente nascer,
Ele exala, expira, se estira, como se fosse morrer;
Manuseia e finca na folha sua razão de irromper,
Desnuda o fascínio do verbo ao procurar entreter.
Meu poema é o verso pungente, a pura galanteria,
É mais do que nomes e formas, é a cal da filosofia;
É um território de ação, duelo singelo, sem garantia,
Na obra do artesão, é um castelo lavrado na escrita.
Ele não aspira grandeza, leveza, nem teme o fiasco,
É fragor, estrondo, ruído, o doce garimpo no espaço;
Por vezes, me deixa exaurido, moído em pegamasso,
Nas outras, sua força me embala por cristalino regato.
Meu poema termina inventivo, semeador de toada,
Ou finda num só rabisco, ao resvalar pela estrada;
É um deserto de areia ou o manancial da palavra,
É o abalo em cadeia ou, entre rochedos, a enseada.