Representantes da Academia Global Rei Salman para a Língua Árabe contaram das iniciativas sauditas para difundir o idioma ao redor do mundo. Ele falaram no 1º Fórum da Cultura e Língua Árabe no Brasil, que ocorreu neste sábado (9) na sede da Câmara Árabe, com público de mais de 100 pessoas.
A Arábia Saudita vem realizando mundialmente um trabalho de difusão do idioma árabe e escolheu o Brasil como um dos seus focos. Delegação da Academia Global Rei Salman para a Língua Árabe (KSGAAL, na sigla em inglês) está no País, onde teve atividades na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na última semana e realizou neste sábado (9) o 1º Fórum da Cultura e Língua Árabe no Brasil. O encontro ocorreu na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista, em uma parceria também com a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras).
O fórum reuniu estudiosos e interessados no idioma árabe, que puderam ouvir tanto sobre os esforços dos sauditas pelo maior alcance da sua língua, como a respeito da presença do árabe no Brasil e os últimos avanços da sua disseminação no País. O secretário-geral da KSGAAL, Abdullah Al-Washmi, resumiu bem o objetivo saudita de difundir o seu idioma no Brasil. “Apesar da distância geográfica do Brasil, acreditamos que a língua e a cultura aproximam os povos”, disse Al-Washmi.
Diretores da academia contaram como a instituição atua. Uma das frentes é o mapeamento da situação do idioma em determinado país ou região para desenvolver programas adequados para o local. Outra ação importante é um projeto de imersão no idioma e na cultura árabe para estrangeiros, por oito meses, na Arábia Saudita, com método moderno que permite o aprendizado necessário neste tempo. A academia também tem um canal digital de árabe para que adultos aprendam o idioma e outro voltado para crianças, segundo os relatos da diretora de Administração Educacional da KSGAAL, Umamah Al Shanqiti.
Citando a utilização de inteligência artificial, o diretor de Avaliação Linguística da KSGAAL, Mansour Al Maliki, contou que a academia usa meios modernos para divulgar a cultura e o idioma árabe. Entre outras ações, ele relatou a existência de um prêmio anual da academia para pessoas que trabalham pelo idioma árabe em outras partes do mundo e o desenvolvimento de uma prova de proficiência na língua, assim como existe para outros idiomas, caso do Test of English as a Foreign Language (Toefl) para o inglês. O teste já foi feito por 2 mil pessoas e há conversas para que passe a ser aplicado no Brasil, segundo Maliki.
Os sauditas, assim como os demais presentes, puderam ouvir também sobre a situação do idioma árabe no Brasil, especialmente na tradução literária, em um relato feito pela professora livre docente e associada da Universidade de São Paulo (USP) no Departamento de Letras Orientais, Safa Jubran. Ele contou de altos e baixos na tradução do árabe no Brasil, desde a década de 1920, com alguns momentos de maior fluxo, como quando o escritor egípcio Naguib Mahfouz ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1988.
Jubran descreveu um cenário promissor atualmente, com a criação em 2013 do grupo de pesquisa Tarjama: Escola de Tradutores de Literatura Árabe Moderna, e o nascimento, em 2020, da Editora Tabla, dedicada a traduzir autores árabes para o português. O Tarjama se formou informalmente e se tornou um espaço de formação e debate importante na tradução. Jubran conta que, por meio da Tabla, por exemplo, foram publicadas mais obras de literatura árabe no Brasil em quatro anos do que nos últimos 40 anos.
Muitas apresentações do fórum destacaram a presença do iidoma árabe no Brasil. A vice-presidente de Comunicação e Marketing da Câmara Árabe, Silvia Antibas, fez um apanhado histórico sobre como se deu a chegada do idioma no País, desde a presença árabe na Península Ibérica e depois a colonização portuguesa no Brasil, seguidas da chegada de escravos africanos muçulmanos na Bahia, que promoveram uma revolta que foi organizada no idioma árabe, e então pelo fluxo imigratório sírio, libanês e palestino a terras brasileiras. Antibas disse que o atual momento, com o desenvolvimento de políticas mundiais por países como Arábia Saudita, está gerando mais interesse pelo idioma árabe no mundo.
Árabe: idioma que gera conexões
O fórum foi aberto pelo vice-presidente da Fambras, Ali Zoghbi, que descreveu o idioma árabe como um elo que conecta milhões de pessoas no mundo. Segundo ele, a língua é falada globalmente por cerca de 400 milhões de pessoas e é fundamental para os seguidores da religião islâmica. O Alcorão foi escrito em árabe. O presidente do Conselho Superior de Administração da Câmara Árabe, Marcelo Sallum, também falou na abertura do fórum e fez uma conexão entre a expansão árabe pelo mundo e a difusão de conhecimentos que eles fizeram por meio da língua árabe. Ele lembrou que o Brasil abriga atualmente mais de 12 milhões de árabes e descendentes e tem estabelecidos com o mundo árabe fortes laços de amizade e respeito.
O embaixador da Arábia Saudita no Brasil, Faisal bin Ibrahim Ghulam, destacou o bom momento das relações Brasil-Arábia Saudita, sobretudo nos campos econômico e político, e disse que é preciso aproveitar isso para desenvolver também a área cultural. Ele disse que percebe um interesse das autoridades brasileiras por aumentar a presença do idioma no Brasil. Ghulam acredita que o aprendizado dos idiomas deve ser mais desenvolvido para maior conhecimento entre os dois povos, Brasil e árabes.
Citando ações em locais como França, África, Tailândia, o secretário-geral da KSGAAL, Abdullah Al-Washmi, falou que enquanto o fórum se realizava, outros esforços aconteciam para promover a língua árabe. O secretário-geral afirmou que a academia vê o Brasil com muita consideração. “Encontramos aqui aceitação, amor e amizade”, falou. A citação de palavras do português com origem árabe foi uma constante nos discursos do fórum. O chefe do setor de Computação Linguística da academia, Abdullah Al Faifi, descreveu várias delas: alfaiate, alforria, alfazema, almofada, arroz, azeitona, entre outras.
O evento reuniu mais de 100 pessoas e teve também apresentação musical e serviço de caligrafia árabe gratuito para os participantes. Entre as autoridades participaram ainda o embaixador Ahmed Swar, encarregado de Negócios da Embaixada do Sudão em Brasília e outras lideranças da Câmara Árabe. A Casa Árabe, braço cultural da Câmara Árabe, e a Halal International Academy, uma iniciativa da Fambras presidida por Ali Zoghbi, também foram parceiras na realização do fórum.
Fonte: Anba