Especial: Simpósio na China celebra 500 anos do nascimento de Luís de Camões, poeta português

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Em comemoração ao 500º aniversário do poeta português Luíz Vaz de Camões, um simpósio internacional sobre o autor foi realizado na Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing (BFSU, na sigla em inglês) e na Universidade de Comunicação da China nesta quinta e sexta-feira.

Focando na obra desse grande poeta, a conferência reuniu acadêmicos, professores e estudantes do país e do exterior que compartilharam suas experiências na leitura da poesia de Camões e discutiram sobre a tradução da literatura em língua portuguesa.

“A literatura constitui a cristalização da civilidade do ser humano, enquanto a tradução serve como uma ponte que interliga as diferentes civilizações. Tanto a cultura chinesa como a dos países de língua portuguesa tem uma longa história e características únicas. A tradução literária ajudará a aumentar a amizade e compreensão entre os povos, assim como promover a diversidade, a prosperidade e o desenvolvimento da cultura mundial,” disse Zhang Fangfang, vice-diretora da Faculdade de Estudos Hispânicos e Portugueses da BFSU, durante a sessão de abertura do simpósio.

Luís de Camões é considerado um dos escritores renascientistas mais proeminentes de Portugal. Suas obras, que incluem épicos, sonetos e peças de teatro, tiveram um impacto profundo na língua, na identidade e na cultura portuguesa.

O poeta português viveu um longo período de exílio com uma breve passagem por Macau, na China. Após retornar a Portugal, publicou “Os Lusíadas”, um grande poema épico que escreveu durante seu tempo em exílio, onde narra de forma vívida a viagem do navegador Vasco da Gama à Índia. A obra exalta a história dos Descobrimentos e o heroísmo, além do espírito aventureiro da nação portuguesa, sendo considerada a epopeia nacional de Portugal.

O embaixador de Portugal na China, Paulo Jorge Nascimento, afirmou, em seu discurso, que a importância de Camões para Portugal vai além da sua influência literária, refletindo também a cultura e a história que suas obras representam, acrescentando que o simpósio possui um significado muito importante para o intercâmbio cultural.

Em 1992, o tradutor chinês Zhang Weimin lançou a primeira tradução em chinês de “Os Lusíadas”. Nos anos seguintes, ele fez várias reedições dessa obra e também publicou traduções de outras importantes obras da literatura portuguesa, como “100 Sonetos de Camões” e “Livro do Desassossego”, de Fernando Pessoa. Essas publicações ajudaram a introduzir a literatura portuguesa ao público leitor na China.

“Depois de me formar na universidade em 1977, trabalhei como editor em uma revista de língua portuguesa. O nosso professor estrangeiro trouxe alguns trechos de ‘Os Lusíadas’ e sugeriu que nós, jovens, tentássemos traduzi-los”, recordou Zhang sobre a sua primeira experiência de tradução.

“Naquela época, a literatura portuguesa era muito desconhecida pelos leitores chineses e faltavam materiais em português e apoio financeiro, e a poesia de Camões é bastante densa e difícil de decifrar, o que tornava a tradução um desafio”, disse ele, acrescentando que eles ficavam animados em discutir, traduzir e revisar juntos, e assim publicaram uma tradução chinesa da Antologia de Camões.

Nesse momento, Zhang percebeu que, se conseguisse traduzir alguns trechos de poesia, poderia se aventurar na tradução de toda a obra. Assim, decidiu dedicar-se à tradução da literatura portuguesa.

Desde a epopeia de Camões até o “Livro do Desassossego”, de Fernando Pessoa, passando pelo romance “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago, com a publicação das traduções de obras da literatura portuguesa, a rica e romântica história cultural desse país tem sido gradualmente descoberta pelos leitores chineses.

No simpósio, Jin Xinyi, professora de língua portuguesa da BFSU, traçou um panorama do desenvolvimento da tradução da literatura portuguesa na China. Na sua opinião, a literatura portuguesa ainda é um campo pouco explorado pelos chineses. Contudo, a publicação das traduções das poesias de Camões simbolizou a entrada da literatura portuguesa no cenário literário da China, e desde então, cada vez mais obras têm sido traduzidas e trazidas para o país.

Atualmente, um número crescente de leitores chineses está conhecendo e se apaixonando pela rica história e cultura de Portugal.

“Na literatura em língua portuguesa, sou fã de José Saramago, pois suas obras refletem uma profunda preocupação social”, compartilhou Ruan Jingyin, estudante de português da BFSU. Para Ruan, a tradução é um processo de reinterpretação das obras literárias, e o tradutor atua como um segundo autor.

“Aqui, onde a terra se acaba e o mar começa…” — essa famosa frase de Camões referindo-se ao Cabo da Roca, a ponta mais ocidental do continente europeu, ganha cada vez mais relevância à medida que novas traduções da literatura portuguesa aparecem. Assim, a imagem desse país distante vai se tornando cada vez mais nítida na mente dos leitores chineses.

Fonte: Portuguese