Entrevista do Excelentíssimo Sr. Seyed Ali Saghaeyan Embaixador da República Islâmica do Irã

                                                                                                                                                                                                                                                                                       

Entrevista do Excelentíssimo Sr. Seyed Ali Saghaeyan
Embaixador da República Islâmica do Irã
Para o jornal  Brasília In Foco

1- As relações bilaterais Brasil-Irã

 

Em nome de Deus
Em primeiro lugar, devo dizer que o Irã e o Brasil são dois países
importantes em dois pontos geopolíticos no mundo: o Oriente Médio e o
Hemisfério Oeste, com grande capacidade para manutenção e continuação das
relações antigas baseadas nos interesses bilaterais e recíprocos.
Nossa visão das relações com o Brasil é uma visão de respeito e de
cooperação conjunta com interesses comuns nas diferentes áreas, como,
agricultura, indústria, petróleo, mineração e comércio. O Brasil, nessas duas
últimas décadas, se tornou um dos fornecedores importantes dos produtos
necessários ao Irã, como: carne, milho, açúcar e outros. O intercâmbio
comercial entre nossos dois países passou de 400 milhões de dólares no final
da década de 1990, por volta de 2 bilhões e seiscentos milhões de dólares em 2017. Foram
assinados 60 documentos de cooperação bilaterais nas áreas políticas,
econômicas, da indústria, mineração, energia, financeira, transporte, sanitária,
agricultura, ciência e tecnologia, cultura, arte e comunicação, com efeitos
consideáveis no desenvolvimento das cooperações bilaterais. Até agora foram
realizadas  quatro comissões conjuntas que resultaram na assinatura dos
Protocolos de Entendimento de Cooperações nas áreas econômicas,
tecnológicas e comerciais.
Durante os últimos anos foram realizadas visitas de diversas autoridades na
área da política e economia, à Teerã e à Brasília. A última e a mais importante
nas relações bilaterais, foi a visita do Excelentíssimo Senhor Dr. Zarif, Ministro
das Relações Exteriores da República Islâmica do Ira à Brasília, em 10 de abril
de 2018. Nessa visita uma delegação política e comercial de alto nível, com
100 pessoas ativas na área da economia e comércio, de empresas privadas e
estatais, acompanhava o Senhor Ministro. Nessa visita, foram tratados os
assuntos bilaterais, regionais e internacionais de interesses comuns, nos
encontros com o Presidente Michel Temer e com o Ministro de Estado das
Relações Exteriores da República Federativa do Brasil, o Senhor Aloysio Nunes.
Também foram assinados 7 documentos de colaboração nas áreas
econômicas, comerciais, jurídica e acadêmica.

2- Programas culturais para 2018:
Tendo em vista a importância de conhecimentos entre as nações e
estudiosos dos dois países, a realização dos programas culturais com intuito
de desenvolvimento desses conhecimentos, é uma de nossas prioridades.
Nos últimos 12 meses, grupos brasileiros, produtores de filmes e
documentários visitaram o Irã, fizeram reportagens e divulgaram-nas. Além
de que dois grupos musicais iranianos realizaram apresentações em São
Paulo e em Brasília. Inclusive, na apresentação do grupo musical em
Brasília, a música iraniana foi tão atrativa, que a parceria com a Escola de
Música de Brasília continuará. Esperamos que seja realizado
conjuntamente, um programa de música ainda neste ano. No encontro com
o Ministro da Cultura da República Federativa do Brasil, concordamos sobre
a realização da semana do Cinema Iraniano, assim como, uma exposição
dos artesanatos.
3- A posição do Irã sobre o assunto de saída dos EUA do acordo nuclear:
JCPOA declarada pelo Governo Trump.
JCPOA é um acordo internacional firmado entre o Irã e os 5+1, e aprovado
pela resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU. A saída dos EUA do
JCPOA é a violação de um acordo internacional e do Direito Internacional.
Um ato no sentido de Iranofobia e a continuação de inimizades que duram
há 40 anos contra o Irã. A reação da sociedade internacional contra essa
medida dos EUA e em seguida às palavras impensadas, fora da educação e
ética internacional das autoridades desse país, demonstram que a
República Islâmica do Irã tem razão. Esse acordo é resultado das longas e
complexas negociações na história contemporânea da dilpomacia. Cada
parte do acordo aceitou responsabilidades e compromissos que devem
respeitá-los. Trump, com a saída do acordo de Paris sobre clima,
demonstrou que não se interessa pelos direitos e pelas normas aprovadas
pela sociedade internacional. E assim, ele baixa a posição dos EUA no
cenário internacional. Com a saída dos EUA, pelo contrário, as conquistas
políticas, direitos e segurança do Irã até aumentaram, mas as conquistas
econômicas afetadas pela saída dos EUA, devem ser ressarciadas pelos
outros membros do acordo. Portanto, o resultado das negociações com a
Europa e com as outras partes do JCPOA, definirão a posição futura do Irã
em relação a esse acordo.

4- Os relatórios da imprensa internacional demonstram que a União Européia
Não apoiou a última decisão de Trump. Como são as relações diplomáticas
entre o Irã e a Europa?
A União Européia demonstrou, nas suas palavras que não se curva perante
às políticas dominadoras e aproveitadoras do Governo de Trump. Acho que
a Europa tenta preservar sua autoridade política e também seu interesse
econômico e comercial. Claro que nós não esperamos que a União
Européia, nossa aliada, seja contra os EUA. É natural que as empresas
multinacionais e as grandes empresas privadas européias, sigam seus
interesses. Mas, o importante é que os países sejam independentes em
seus atos, e que rejeitem tendências unilaterais e contrárias ao Direito
Internacional de alguns Governos.

Fotos: Cidália Varela

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Fabiana Ceyhan

Jornalista por formação, Professora de Inglês (TEFL, Teaching English as a Foreigner Language). Estudou Media Studies na Goldsmiths University Of London e tem vasta experiência como Jornalista da área internacional, tradutora e professora de Inglês. Poliglota, já acompanhou a visita de vários presidentes estrangeiros ao Brasil. Morou e trabalhou 15 anos fora do país.