Coluna: A TRISTEZA DA PARTIDA

Eu preciso deste instante
Para proclamar ao mundo
A tristeza da partida.
Nesta hora penetrante,
Em que o peito moribundo
Geme enfim sua cantiga.
Mesmo na dor incessante,
Chega o momento iracundo
De encarar a despedida.
Deixo uma casa, meu velho jardim,
Fico sozinho, relendo um pasquim.
Vou entoando um verso atormentado,
Saudoso desta noite que chegou ao fim.
Partir, com a mala arrumada,
Uma bela toada,
Olhos a pungir.
Sentir que a luz é sagrada,
Longa é a caminhada,
Desta alma penada,
Voando nas ondas,
Fluindo na estrada.
Seguir, pois ficar não traz nada,
Infeliz quem naufraga,
Sem obra a cumprir.
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Raul de Taunay

Diplomata de carreira do Ministério das Relações Exteriores, Embaixador e Escritor,serviu o Brasil em várias missões pelo Mundo. O plenário da Academia Brasileira de Letras outorgou-lhe em dezembro de 2005, por unanimidade, a Medalha João Ribeiro.