Artigo – RELAÇÕES ENTRE CHINA E BRASIL: O NORDESTE BRASILEIRO E A EXPORTAÇÃO DE FRUTAS – Por Leila Bijos

Conhecer para se aproximar e ser amistoso para conviver

O mundo dinâmico em que vivemos prospera em uma plasticidade multi e intercultural, onde a política, economia, sociedade e cultura se entrelaçam constituindo vastas redes de poder. Nesse contexto ganha relevo as relações bilaterais travadas entre  China e Brasil que descortinam um novo tipo de cooperação entre países, e que surgiu a partir de um longo e paulatino processo de mudança na política de desenvolvimento econômico no mundo na década de 1970.

As parcerias e cooperação entre Brasil e China dinamizam a competição, o agronegócio, e inter-relacionam diferenças geográficas e culturais, semelhanças e visões de futuro. Terras férteis no Brasil são uma peculiaridade que evidencia uma geografia rica de solos, como terra-roxa, massapé, salmourão e aluviais, que são encontrados no centro-oeste e no sul do país. O Brasil é reconhecido mundialmente pela excelência na produção, no desenvolvimento e no domínio de técnicas agrícolas inovadoras e sustentáveis, além de ser o detentor da mais extensa parcela territorial do ecossistema, que por sua vez, é depositário da maior biodiversidade do planeta. Cenários prospectivos evidenciam a preservação da Amazônia, aliada ao desenvolvimento de comunidades locais, favorecendo o incremento da qualidade de vida de suas populações. Ao assumir a liderança regional, o Brasil adere também ao compromisso constitucional de cooperar para o desenvolvimento dos povos.

Ser uma potência regional assegura uma relevância internacional atribuída ao Brasil, que assume o papel de um novo ator em ascensão no cenário da economia global. Os governos do Brasil e da China firmaram acordos durante a visita do presidente Xi Jinping, em 2019, e o protocolo estabelece os requisitos para importação e exportação de frutas frescas, ancorado em protocolos sanitários entre os países, a fim de se evitar o ingresso de pestes ou pragas endêmicas do país exportador no país importador. Conforme as normas da Organização Mundial do Comércio e outros organismos internacionais de referência, as exigências determinadas pelo país importador devem estar baseadas em critérios científicos. Os protocolos contemplando pera e melão foram os primeiros firmados com a China sobre frutas. A China é a maior consumidora mundial de melão: em 2018, foram consumidas 15.648.000 toneladas. A China importou, em 2019, o total de aproximadamente US$ 7 bilhões em frutas frescas, de acordo com dados do Palácio do Planalto. O que determinou a ampliação do mercado chinês para a exportação de melões brasileiros.

O Nordeste Brasileiro tornou-se o detentor da exportação de melão, uva e manga para a China. Além de gerar boa rentabilidade e quantidade expressiva de emprego, tem forte potencial para impulsionar as exportações de produtos agrícolas, exportando mais de 877,5 mil toneladas de frutas, o equivalente a US$ 975,4 milhões. A pauta de exportações do Nordeste brasileiro inclui nozes e castanhas, limões, limas (3,77%), totalizando US$ 614,2 milhões, o que representou cerca de 63% das exportações de frutas do país (2019). O Vale do São Francisco, localizado entre os estados de Pernambuco e da Bahia, é responsável por mais de 80% do valor das exportações de manga brasileira, e por cerca de 99% da receita do Brasil decorrentes das exportações de uva. Os estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, juntos, foram responsáveis por cerca de 98,4% das exportações nacionais de melão (MDIC, 2019; VIDAL; XIMENES, 2019).

A Região Nordeste brasileira é composta pelos estados de Alagoas (AL), Bahia (BA), Ceará (CE), Maranhão (MA), Paraíba (PB), Pernambuco (PE), Piauí (PI), Rio Grande do Norte (RN) e Sergipe (SE), apresentando uma área de 1.554.257 km² e uma população de 57.071.564 habitantes, sendo a segunda área mais populosa do território brasileiro (2021). A principal atividade econômica desenvolvida nesta região é a agricultura, com destaque para a produção de frutas, que correspondeu, em 2018, a cerca de 5,5% da pauta exportadora.

No que se refere ao Estado da Paraíba, ressalte-se o Plano de Ações Estratégicas para o Fomento e Fortalecimento de Atividades Produtivas. Cidades de destaque no Litoral Sul Paraibano, correspondem a Alhandra, Caaporã, Conde e Pitimbu, inseridas na promoção do desenvolvimento econômico, no fortalecimento de atividades produtivas geradoras de emprego e renda. Sendo que o empreendedorismo torna-se a mola mestra para a melhoria do ambiente de negócios, visando contribuir para o desenvolvimento econômico e a transformação da realidade territorial.

Governadores, prefeitos e especialistas se mobilizam no fortalecimento de lideranças e organizações representativas, que estimulam uma transformação positiva do território a que pertencem. Em Gurinhém surgem multifeiras e mercados criativos com artesanato, moda, jardinagem, oficinas de gastronomia para mulheres, convênios com o Instituto Gourmet, com uma agenda dinâmica que tem início nos dias 13 e 14 de maio de 2022, voltada para a melhoria de renda das pessoas, sob a organização do especialista Saulo Barreto. 

Como marco histórico priorizou-se o Projeto de Desenvolvimento Econômico Territorial – DET do SEBRAE PB (2017). O exercício do planejamento é um processo técnico, político e cultural, que se insere em articular vontades e desejos (o político), as soluções mais adequadas (o técnico), os costumes e formas de pensar e agir (o cultural) representa um processo complexo e absolutamente indispensável para comandar o destino do desenvolvimento de um território. Como resultado das missões internacionais que temos coordenado no âmbito da Universidade Federal da Paraíba, Prefeitura e Governo do Estado, posso afirmar que as ações delineadas resultam de um efetivo processo de articulações, que retrata o nível da região e de seus agentes na organização e na prática do planejar.

Após anos de muito trabalho e importantes avanços, a Paraíba é hoje o lugar onde se encontra assertividade, integração, segurança e parceria. Tudo se transforma em oportunidades, visando atender às cadeias produtivas, desenvolver políticas e estruturas para um célere desenvolvimento. Somando-se João Pessoa (capital), Campina Grande e as cidades vizinhas de Recife (PE), Fortaleza (CE) e Natal (RN), verifica-se um entorno com fácil acesso terrestre e aéreo, com rodovias pavimentadas, faixas duplicadas, serviços, comércio, indústria de transformação, construção civil, e modernos serviços digitais. Em 2020, a Paraíba alcançou a marca de 229 Escolas Cidadãs Integrais (ECI), sendo 100 delas com oferta de educação profissional, representando 71 cidades com Escolas Cidadãs Integrais Técnicas (ECITs). As instituições de ensino superior na Paraíba somam 76 polos ou campi espalhados em diversas cidades paraibanas.

Estratégias futuras incluem o desenvolvimento do turismo, com o maior complexo turístico do Nordeste, com o Surf World Park, Ocean Palace Jampa Eco Beach Resort, O Amado Bio & Spa Hotel. O Centro de Convenções localizado em João Pessoa, é um dos mais modernos do Brasil, e conta com quatro grandes estruturas: a Torre do Mirante, o Pavilhão de Feiras e Exposições, o Pavilhão de Congressos e Convenções, e o Teatro da Pedra do Reino, com capacidade para realizar 20 eventos simultâneos. O Parque das Trilhas, é a maior reserva ambiental de Mata Atlântica nativa inserida na malha urbana do Brasil.

Com o grande projeto de irrigação do Nordeste, a região demonstra o seu grande potencial econômico e social, com potencial mineral, polos industriais, energias renováveis, tecnologia e inovação, com parcerias nacionais e internacionais que se ampliam a cada dia.

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Leila Bijos

Pós-Doutora em Sociologia e Criminologia pela Saint Mary’s University, Halifax, Nova Scotia, Canadá. Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (CEPPAC/UnB). Professora Visitante do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais (PPGCPRI), Universidade Federal da Paraíba (2020). Coordenadora de Pesquisa do Centro de Estudos Estratégicos (CEEEx), Núcleo de Estudos Prospectivos (NEP), Ministério do Exército (2019-2020). Aigner-Rollet-Guest Professor at Karl-Franzens University of Graz, Áustria Centro Europeu de Formação e Investigação dos Direitos Humanos e Democracia, Uni-Graz (2018/2019). Pesquisadora Visitante no International Multiculturalism Centre, Baku, Azerbaijão (2018). Professora do Mestrado Stricto Sensu em Direito da Universidade Católica de Brasília (2000-2017). Oficial de Programa do PNUD (1985-1999). Professora do Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual Transferência de Tecnologia para a Inovação – PROFNIT, Universidade de Brasília (UnB), CDT, Brasília, DF desde 2016.