Artigo – Azerbaijão referencia mundial de desenvolvimento – Por Leila Bijos

Desembarcar em Baku, a moderna capital da Terra do Fogo e a Pérola do Cáucaso, foi uma experiência inesquecível para mim. Eu sabia que iria trabalhar como professora visitante no Baku International Multiculturalism Center, e estava repleta de expectativas, que se cumpriram totalmente. Uma cidade pujante que sente orgulho de suas origens históricas, e convive harmonicamente com as arquiteturas do antigo Icherisherer (Cidade Antiga ou Inner City) e o Maiden Tower, em meio a jardins e fontes, onde os jovens fazem piqueniques, e as famílias se reúnem com os filhos, que brincam alegremente, enquanto tomam sorvete. Ao lado destas relíquias se encontram as três Fire Towers, exemplo de arquitetura contemporânea, na área central de Baku, que encantam os turistas com sua iluminação, ao inundar o ambiente com mudança de cores a todo momento.

Meu trabalho de pesquisa consistiu em analisar “O papel do multiculturalismo na política do Estado do Azerbaijão”, num ambiente acolhedor do Centro de Multiculturalismo, em meio a inúmeras publicações, fotos de eventos, e uma equipe acolhedora. O multiculturalismo se reveste de uma diversidade cultural secular, em que grupos étnicos com crenças e culturas distintas coexistem na sociedade do Azerbaijão, tendo os seus direitos respeitados, com espaços de diálogo, reflexão e participação democrática, num país transcontinental localizado entre a Ásia Ocidental e a Europa Oriental.

A cada dia pude receber relevantes subsídios geopolíticos que me levaram a adentrar na história do Azerbaijão, no seu desafio para solucionar os embates lindeiros, estabelecer acordos diplomáticos, solidificar sua independência, e vislumbrar um futuro de desenvolvimento, com rotas comerciais dinâmicas que o ligam à Europa e a Ásia do oeste, ao leste e do sul ao norte. A população azeri, de origem turca convive com diversas línguas, tendo o azerbaijano como idioma oficial, totalizando 9,6 milhões de pessoas, e uma população mundial de mais de cinquenta milhões de pessoas espalhada da Ásia até a China.   

Fontes arqueológicas, etnográficas, antropológicas e literária nos apresentam mais de 70 grupos étnicos diferentes – russos, lesghins, Talishes, judeus e muitos outros que fazem o orgulho da população, que os respeita e honra as suas tradições e expressões religiosas.  Evidencia-se uma unidade na diversidade, com sanções morais e normas voluntárias, e torna o Azerbaijão um país multiétnico e confessional, com um espírito tradicional de tolerância e coexistência harmônica, cada um contribuindo para a cultura e civilização mundial.

Fui convidada a proferir conferência na Universidade Estatal do Azerbaijão, conhecer seus docentes e discentes, e discorrer sobre o Brasil, um país multiétnico, ressaltando a pujança de seu histórico relacionamento diplomático, e sobre as possibilidades de novas e promissoras parcerias acadêmicas, que se concretizaram com o meu retorno ao Brasil. Foram assinados dois Memorandos de Entendimento Acadêmico, Científico e Cultural entre Baku Centro Internacional de Multiculturalismo, a Universidade de Línguas do Azerbaijão e a Universidade de Brasília (UnB). Em seguida, com o apoio do Embaixador Elkhan Polukhov, demos início à organização do Curso de Extensão em Multiculturalismo e Inovação, no Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT), que contou com a participação da Professora Irina Kunina, de 14 a 25 de outubro de 2019.

O Curso de Extensão em Multiculturalismo e Inovação, despertou a atenção da comunidade acadêmica, de diplomatas; e novas parcerias bilaterais estão sendo desenvolvidas com o Programa de Relações Internacionais da UnB, e com o Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.

O futuro próximo delineia novas perspectivas que se apresentam visando a discutir o desenvolvimento econômico, político e social de sucesso, com ações administrativas abrangentes centradas em estratégias para a promoção do crescimento, transferência de tecnologia para a inovação; propriedade intelectual, incluindo-se tecnologias de ponta na área energética, expansão e exploração das reservas de hidrocarbonetos no país, nomeadamente petróleo e gás natural.   A totalidade dessas estratégias concentra-se num desenvolvimento econômico abrangente, com distribuição de renda equitativa, pleno emprego, e desenvolvimento ambiental sustentável. Políticas de proteção ambiental estabelecem prioridades, com parcerias público-privadas, capacitação da comunidade, proteção às espécies ameaçadas de extinção – urso pardo, águia imperador, lobo, gazela, leopardo caucasiano. Trabalha-se efetivamente com a redução ou eliminação da poluição industrial, abastecimento de água e segurança. O ano de 2010 foi considerado o “Ano da Ecologia”, com plantio maciço de três milhões de árvores, reflorestamento de mais de um milhão de hectares; e os primeiros movimentos em energia renovável, sistema de irrigação por gotejamento, em suma, estudantes, cidadãos, especialistas, comunidades de estudos, pesquisadores e voluntários unindo forças para a concretização de projetos, na cidade de Baku e da península de Absheron. Projetos que são estendidos a cidades como Oguz, Qabalah, Shaki, Ismayilli, onde habitam primordialmente os povos milenares, com suas lendas e tradições. Todas as campanhas de estímulo são discutidas pessoalmente pelo presidente Ilham Heydar oglu Aliyev e pela primeira dama Srª Leyla Aliyeva, que primam pela união, valores espirituais e culturais, famílias islâmicas felizes, crianças autoconfiantes, jovens alegres, orgulhosos e sociáveis, convivendo com cristãos, judeus, ortodoxos, protestantes e católicos. Este é o retrato da família do Azerbaijão, onde as crianças são protegidas pelo Estado, impedidas de sofrer violência, inseridas em um sistema educacional gratuito, com atividades culturais e desportivas.

No mundo contemporâneo da política e economia, a sociedade e a cultura estão interligadas, constituindo vastas redes de poder, que se assentam na integração econômica e na cooperação, que põem fim às barreiras linguísticas e territoriais, destacando-se o papel fundamental da governança internacional.   

O Azerbaijão é o centro do Leste, Oeste, Norte e Sul, e tem o potencial de ser a luz dos nossos tempos, com um papel desempenhado pela fé, paz, respeito, prosperidade, aceitação, e tradições religiosas ancestrais.     

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Leila Bijos

Pós-Doutora em Sociologia e Criminologia pela Saint Mary’s University, Halifax, Nova Scotia, Canadá. Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (CEPPAC/UnB). Professora Visitante do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais (PPGCPRI), Universidade Federal da Paraíba (2020). Coordenadora de Pesquisa do Centro de Estudos Estratégicos (CEEEx), Núcleo de Estudos Prospectivos (NEP), Ministério do Exército (2019-2020). Aigner-Rollet-Guest Professor at Karl-Franzens University of Graz, Áustria Centro Europeu de Formação e Investigação dos Direitos Humanos e Democracia, Uni-Graz (2018/2019). Pesquisadora Visitante no International Multiculturalism Centre, Baku, Azerbaijão (2018). Professora do Mestrado Stricto Sensu em Direito da Universidade Católica de Brasília (2000-2017). Oficial de Programa do PNUD (1985-1999). Professora do Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual Transferência de Tecnologia para a Inovação – PROFNIT, Universidade de Brasília (UnB), CDT, Brasília, DF desde 2016.