“Sul Global” está construindo um caminho alternativo para a cooperação Sul-Sul

Termo foi designado como "Palavra do Ano" em 2023 pelo jornal Financial Times

O BRICS dobrou de tamanho depois que mais de 40 países demonstraram interesse ou se candidataram formalmente para participar da jovem organização internacional, sinalizando uma evolução em direção a um mundo mais multipolar.

O Sul Global, designado como a palavra do ano 2023 pelo jornal Financial Times, está claramente trilhando seu próprio caminho para lidar com uma ordem global em transformação.

Um novo polo da economia global está se formando. Antes da expansão, os países do BRICS respondiam por 32% do PIB global, mais de 15% do comércio global e mais de 40% da população mundial.

De acordo com as estatísticas da Acorn Macro Consulting, sediada no Reino Unido, com base na paridade do poder de compra, o produto interno bruto dos países do BRICS antes da expansão excedeu o do G7.

A classificação mais recente do Fundo Monetário Internacional mostra que o Brasil ultrapassou o Canadá e se tornou a nona maior economia do mundo. Após a expansão, os países do BRICS consolidarão ainda mais a força do Sul Global, demonstrando uma proeza econômica mais robusta.

As estimativas do FMI também mostraram que, com base na paridade do poder de compra, as cinco maiores economias do mundo em 2030 serão, em sequência, a China, os Estados Unidos, a Índia, o Japão e a Indonésia.

Os líderes do Sul Global estão pressionando contra intervenções estrangeiras em assuntos geopolíticos. A readmissão da Síria na Liga Árabe em maio, após 11 anos de suspensão, sinaliza um novo consenso entre os países árabes – somente uma solução regional pode acabar com a crise prolongada.

Em junho, os líderes da América Latina e do Caribe pediram conjuntamente a Washington que encerrasse seu bloqueio político, comercial e financeiro ilegal contra Cuba.

Um relatório da Organização Mundial do Comércio também sugeriu que as economias desenvolvidas ainda são participantes importantes no comércio mundial, mas não mais dominantes.

“Acho que este é um momento histórico para a humanidade – no qual, pela primeira vez, os países do Sul podem usar sua força”, disse o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, antes da cúpula do BRICS em Joanesburgo, em agosto de 2023.

Mudanças no cenário global

“O estresse interno” na ordem mundial dominada pelo Ocidente está levando a “mais dúvidas em todo o mundo sobre sua eficácia e legitimidade”, disse Mohamed El-Erian, consultor econômico chefe da Allianz Global Advisers.

Na Conferência de Segurança de Munique de 2023, o presidente francês Emmanuel Macron expressou “choque” com a credibilidade que o Ocidente estava perdendo no Sul Global antes de o embaixador francês ser expulso do Níger, as tropas francesas serem retiradas do Mali e a epidemia de golpes se espalhar por mais alguns países francófonos da África Ocidental no final do ano.

As ex-colônias agora abrigam um sentimento coletivo de desilusão, se não de raiva e ressentimento, em relação à hegemonia euro-atlântica. Esse sentimento está enraizado nas soluções que ela forneceu, ou na falta delas, para os desafios globais que sobrecarregam injustamente as pessoas na base da pirâmide de riqueza global.

Vozes mais altas sendo ouvidas

“Os dias em que algumas nações definiam a agenda e esperavam que as outras se alinhassem acabaram.” disse Subrahmanyam Jaishankar, ministro das Relações Exteriores da Índia, durante a 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU.

E a voz está chamando a atenção dos líderes do Norte Global, observou Anjali Dayal, professora associada de política internacional da Universidade Fordham, sediada em Nova York.

“Vimos que mais líderes estavam prestando atenção ao maior eleitorado dos países da ONU – países que não são grandes potências, mas que sofrem as maiores consequências e muito raramente conseguem dar o voto decisivo”, disse ela.

“Cada vez mais, os pobres estão dizendo aos ricos que suas prioridades não significarão mais para nós até que as nossas signifiquem muito mais para vocês”, disse Howard W. French, colunista da revista Foreign Policy e professor da Escola de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Columbia.

Cooperação para Melhorar

Atualmente, o Sul Global está construindo um caminho alternativo para a cooperação Sul-Sul.

Em 2023, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, um dos principais investidores internacionais em infraestrutura, precificou seu primeiro título de adaptação climática de cinco anos e arrecadou US$ 335 milhões. Plataformas como a Coalizão Internacional de Desenvolvimento Verde da Iniciativa do Cinturão e Rota e o Centro de Cooperação Sul-Sul para Transferência de Tecnologia também ajudam os países em desenvolvimento com governança, planejamento e capacitação em energia limpa.

A cooperação ecológica é apenas parte da parceria Sul-Sul mais estreita. Com um valor total de US$ 4 bilhões, a China criou um Fundo para Desenvolvimento Global e Cooperação Sul-Sul e implementou mais de 130 projetos em quase 60 países, incluindo Etiópia e Paquistão, abrangendo redução da pobreza, segurança alimentar e prevenção de epidemias.

* Texto publicado originalmente pela Agência Xinhua

Compartilhe

Brasília in Foco