ENTREVISTA COM O UCRANIANO ANATOLY TKACH SOBRE OS ACONTECIMENTOS RECENTES NO CONFLITO.

Fabiana Ceyhan: Como está a situação neste momento entre Rússia e Ucrânia?

As autoridades russas proibiram a atividades  de várias organizações não governamentais no país e está limitando as redes sociais, no país deles. Entre eles Human Rights Watch e Amnistia Internacional. Há dados de que 4,5 milhões das crianças foram afetadas e deslocadas na Ucrânia.

Fabiana Ceyhan: Para onde eles foram?

2 milhões cruzaram a fronteira e 2,5 estão na Ucrânia. Mas agora, considerando que na Ucrânia temos 7,5 milhões de crianças, é mais do que a metade  da população infantil

Fabiana Ceyhan: A Ucrânia tem recebido ajuda americana?

Sim, nós recebemos ajuda tanto da Europa como dos Estados Unidos, do Canadá e de países europeus, a Polônia tem ajudado muito  também.

Fabiana Ceyhan: Alguma ajuda do Brasil?

O Brasil, claro. O Brasil mandou uma ajuda humanitária. Foram 11,5 toneladas que foi com o avião da FAB e a situação continua se agravando. Por isso, nós apresentamos outro pedido de ajuda.

Fabiana Ceyhan: O que o Brasil enviou?

Alimentos e medicamentos. Nesse mês, que é o que nós estamos precisando, alimentos, medicamentos e combustíveis. E continuamos pedindo ajuda.

Ultimamente o  que nos preocupa é que a Rússia está usando, por exemplo, munições cluster nas zonas povoadas, o que também é proibido pelo  Direito Humanitário. Proibido  e também não está permitido o uso dele em áreas povoadas, pela convenção Internacional dos direitos  humanos, também bombas de fósforo branco, várias .

Não é permitido, mas eles estão violando essa lei internacional das Nações Unidas, também foram sequestradas 24 autoridades ucranianas locais.

Até agora já foram confirmadas 186 mortes de crianças e 344 feridos. Mas claro que nós não temos acesso a todos os dados e não temos acesso aos diretórios  de onde está neste momento as tropas russas. Mais de 7000 prédios residenciais foram atingidos e destruídos.

Fabiana Ceyhan: 7000 prédios ou apartamentos ?

Prédios. Estimativas da Comissão de Direitos Humanos da ONU é de que aproximadamente 13 milhões de pessoas dentro da Ucrânia estão precisando de assistência humanitária nesse momento.

Fabiana Ceyhan: Qual a população geral da Ucrânia?

Calculamos, eu diria 44 milhões de pessoas, 44, 46, o censo foi feito já faz bastante tempo. Então isso são estimativas 44 ou 46. Ou seja, isso é um quarto. Aproximadamente um quarto dos 12 milhões de pessoas que foram deslocadas .

Outro caso que também é muito dramático foi o ataque contra a estação ferroviária em Kramatorsk. Um míssil atingiu a estação, onde estão 4000 civis que estavam tentando deixar o local.

Eles estão indo, para de leste da Ucrânia, rumo para para o centro da Ucrânia ou talvez para a fronteira oeste com a Polônia. E quando atingiu o míssil, 57 pessoas foram mortas e 109 foram feridas. É claro que a pior situação ainda permanece na cidade de Mariupol, onde 130.000 civis ainda estão na cidade que está quase toda destruída. As pessoas estão sem água, aquecimento e eletricidade, sem comunicação e diariamente a cidade sofre com os bombardeios. E lá não tem como ajudar. As tropas russas estão em volta. A situação, segundo a declaração do nosso comando militar, é muito complicada para desbloqueio dessa cidade, porque se essa cidade fica nas proximidades, tanto da península da Crimeia como se dirige hoje por elementos já ocupados pela Rússia de Donetsk e Lugansk e por isso que a presença das tropas russas é grande por lá.

Fabiana Ceyhan: Como é a reação da população civil em relação a esta guerra?

Isso virou uma guerra popular, a maioria dos ucranianos apoiam o governo. Eu vou dizer sobre os episódios mais drásticos ou de barbárie com as proximidades daquilo que foram liberadas das tropas russas e foram encontradas civis mortas, civis mortas a tiros. O que não pode. O que uma pessoa morta a tiro? Ela já não é uma vítima colateral como perda colateral, como um tipo de arma de guerra. Caiu uma bomba e morreu. Não é morrer perto dos militares. Um civil, não, mas um civil morto a tiro. isso já é um crime de guerra. É um crime de guerra, uma situação muito, muito terrível. O que aconteceu em bucha. As diferentes cidades nas proximidades daquilo sobre esses crime estão sendo investigadas. Está acontecendo agora uma investigação sobre esses corpos de civis encontradas e mortas a tiro.

Fabiana Ceyhan: Moradores não apoiam a Rússia?

Em Lugansk e Donetsk. Essas cidades , por exemplo, eles rejeitaram uma criação de uma nova República Popular, a Rússia considerava esse esse território como russo devido aos moradores falarem a língua russa, por isso tinha expectativas que as pessoas iriam apoiar. Mas não houve esse apoio. Estão todos do lado da Ucrânia.

Ninguém apoia essa invasão e todos nós estamos fazendo o máximo para uma vitória da Ucrânia e o apoio do presidente, o presidente acabou de receber o premiê britânico em Kiev. Eles passearam pelas ruas da cidade conversando com as pessoas . Antes da guerra, nós poderíamos, como em qualquer outro país democrático falar que apoiavamos outros políticos, outros partidos políticos. Agora eu acho que a maioria da população ou a grande maioria da população ucraniana está apoiando o presidente e que eles entendem o papel que ele desempenha nesse momento. Eles apoiam a decisão dele.

Inclusive, as Forças Armadas também estão todas juntas. Não tem nenhum problema interno, neste momento temos apenas um inimigo, que é a Rússia.

Fabiana Ceyhan: Você acha que essa guerra está por terminar? O que você comentou é que teve um recuo das forças russas.

Sim, estão unidos, eles estão resistindo, todos estão resistindo a invasão. Os 95% dos ucranianos estão seguros de que a Ucrânia vai ganhar essa guerra. 91% dos ucranianos que recusam essa ideia que está promovida pela pela Rússia, de que somos o mesmo povo. 91% dos ucranianos rejeitam. Por isso que nesse momento essa guerra virou uma guerra popular, em que cada um quer ajudar com o que pode para alcançar essa vitória. As mulheres, fazem comida, para os soldados. As famílias que não tem crianças ficam para ajudar o time. Na cidade que a Rússia ocupou, a população civil saiu com as bandeiras ucranianas em protesto contra essa invasão. Que também é um sinal de nossas forças.

Ajuda externa

Na verdade, quase todos os países estão ajudando. cada um faz o que é possível. Por exemplo, a Polônia se tornou, como nós chamamos, a nossa irmã, que não só nesse momento está acolhendo vários ucranianos. Têm uma diferença legal entre o um refugiado e um imigrante ou deslocado, que uma pessoa saindo do país é um deslocado e um refugiado é a pessoa que recebeu o status de refugiado. E falando, por exemplo, nesse momento aproximadamente quatro, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas, 4.5 de ucranianos saíram do país, mas não somam 4,5 milhões das pessoas que receberam status de refugiado em outros países. Do mesmo jeito como as pessoas que chegam para o Brasil com um visto humanitário, eles não são refugiados. Eles podiam optar pelo refúgio, mas eles são deslocados . E muitos ucranianos não vão pedir esse status porque eles têm a intenção de voltar para a Ucrânia em breve, quando a situação melhorar.

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Fabiana Ceyhan

Jornalista por formação, Professora de Inglês (TEFL, Teaching English as a Foreigner Language). Estudou Media Studies na Goldsmiths University Of London e tem vasta experiência como Jornalista da área internacional, tradutora e professora de Inglês. Poliglota, já acompanhou a visita de vários presidentes estrangeiros ao Brasil. Morou e trabalhou 15 anos fora do país.