Entrevista com o Embaixador brasileiro na China

Embaixador brasileiro na China: Relações Brasil-China permanecem em crescimento consistente Por Shi Liang e Hu Yingfeng

Este ano marca o 45º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Brasil. Na véspera desta data comemorativa no dia 15 de agosto, o embaixador brasileiro na China, Paulo Estivallet de Mesquita, concedeu uma
entrevista exclusiva à Fanzine, avaliando positivamente o relacionamento bilateral.

Fanzine:Este ano marca os 45 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Brasil. Qual é a sua avaliação geral sobre esse relacionamento bilateral?

Embaixador: O Brasil já manteve com a China relações diplomáticas no passado, ou seja, antes da criação da República Popular, mas foram relações mantidas num período muito tumultuado na China, que basicamente era na primeira metade do Século XX.

Quando os dois países decidiram estabelecer relações em 1974, começaram basicamente com uma página em branco, ou seja, não há hipotecas do passado, não há ressentimentos, e, por outro lado, há tudo por descobrir nos dois países. Nos primeiros anos houve um processo, que eu diria, de aproximação e conhecimento mútuo bastante gradual.

Foi, sobretudo, a partir dos anos 1990 e, mais ainda, a partir dos anos 2000, que houve uma intensificação muito grande desse relacionamento principalmente na área econômica e comercial, muito como reflexo do extraordinário crescimento da economia chinesa.

Mas os dois governos, já nos anos 1990, começaram a buscar os instrumentos para dar um amparo institucional a este relacionamento. Em 1993 já se criou uma parceria estratégica, e nos anos 2000, várias novas iniciativas foram tomadas, como transformar, mais recentemente, essa parceria estratégica numa parceria estratégica global. É um relacionamento que vem crescendo de uma forma consistente e que, nos últimos anos, adquiriu uma massa crítica que gera sua própria dinâmica.

Então, hoje em dia, o comércio bilateral já se encontra perto de 100 bilhões de dólares. Isso faz com que já haja número de atores econômicos no Brasil e na China que se conhecem, e muitas dessas coisas já funcionam quase que naturalmente.

Agora é importante o papel dos governos para dar a solidez a isso, para eliminar obstáculos e para identificar novas oportunidades. Mas é um relacionamento que mais uma vez eu descreveria como muito positivo, percebido como positivo pelos dois países, baseado em respeito mútuo e na ideia de que ele tem que ser benéfico para os dois.

É o que tem acontecido ao longo desses últimos 45 anos e que nós contamos que vai continuar acontecendo nos próximos 45 anos

Fanzine:Graças ao desenvolvimento muito positivo das relações bilaterais, na vida cotidiana dos chineses, há cada vez mais elementos brasileiros. Por exemplo, o chinelo Havaianas, e até se pode comprar na internet Guaraná e Açaí, produtos típicos brasileiros. É a mesma coisa no Brasil na vida cotidiana dos brasileiros?

Embaixador: Sem dúvida. A China, até há mais algum tempo, se tornou muito presente pelo comércio e pela diversidade dos produtos que estão presentes no mercado brasileiro, sobretudo os produtos industriais.

Mais recentemente nós começamos aqui também a presença de empresas chinesas e marcas chinesas com maior visibilidade no Brasil. Então, por exemplo, para celulares, um pouco com algum atraso em relação a concorrências internacionais, mas com muito dinamismo, as empresas chinesas agora estão presentes. Uma outra marca muito visível no Brasil é a DiDi, que é uma empresa de transporte urbano, digamos, que adquiriu uma empresa brasileira e que está tendo um sucesso muito grande.

Então, acho que, enfim, isso é algo que se tornou mais visível em anos mais recentes mas que continua se expandindo de forma bastante marcante, tanto aqui como lá.

Fanzine: O Sr. Embaixador pode dar uma avaliação geral sobre a cooperação econômica e comercial entre os dois países?

Embaixador: A cooperação na área comercial, acho que os números falam por si mesmos. Entre 2004 e 2019, o comércio bilateral se multiplicou por dez. Se a gente voltar ao final dos anos 90, de lá para cá, o comércio se multiplicou por 30. Hoje em dia, o que era o comércio bilateral entre o Brasil e a China no ano 2000, 2001, é hoje o comércio que o Brasil tem com a província de Hebei, por exemplo. Então isso é algo que funcionou muito bem e que continua se expandindo a taxas muito impressionantes. E, com isso, a China se já tornou, praticamente há dez anos, o maior parceiro comercial do Brasil.

No ano passado, o comércio com a China foi o dobro do que foi o comércio com o nosso segundo parceiro comercial, que são os Estados Unidos. E o Brasil tem uma presença importante também no comércio exterior da China. O Brasil é o oitavo maior parceiro comercial. Entre os países do Ocidente, acho que apenas os Estados Unidos e a Alemanha têm um comércio tão grande como do Brasil. Os outros parceiros maiores da China estão aqui na Ásia.

Essa parte de comércio vem se desenvolvendo muito bem. Nós esperamos que continue assim. Os investimentos são um fator relativamente recente. Há dez anos, praticamente não existiam. Mas no período de cinco a seis anos, a China se tornou investidor importante no Brasil partindo de praticamente zero e agora já tem um estoque de 70 bilhões de dólares de investimento no Brasil. E nós também temos a expectativa de que isso se expanda nos próximos anos.

O crescimento da economia brasileira foi muito baixo ao longo desses últimos anos e, agora, com as reformas que estão sendo implantadas, a nossa expectativa é de que haja uma retomada bastante significativa desse crescimento. O que por um lado criará oportunidades para empresas chinesas ou oportunidades de investimento lucrativo no Brasil, e, por outro lado, o Brasil também necessitará do investimento chinês para financiar as suas necessidades em diversos setores.

Fanzine: O presidente chinês, Xi Jinping, disse que o entendimento entre os povos é a chave para as boas relações entre os países. Como o Sr. Embaixador considera o papel do intercâmbio cultural e interpessoal para o desenvolvimento das relações bilaterais?

Embaixador: Essa é uma área muito importante e que, na verdade, talvez seja o ponto onde o nosso relacionamento bilateral está mais aquém do seu potencial. Por um lado, nós constatamos que existe muita simpatia mútua de parte a parte. Os chineses são muito bem-vindos no Brasil e os brasileiros também se sentem muito bem ao visitar a China. Por outro lado, os fluxos, por exemplo, de turistas estão muito abaixo do que seria normal. Nós esperamos que haja um desenvolvimento nessa área que requer também o envolvimento do setor privado.

Outra área de relacionamento interpessoal onde nós achamos que ainda há muito campo para expansão é a área de troca de estudantes, por exemplo. Além disso, tanto a embaixada do Brasil aqui na China como a embaixada chinesa no Brasil, têm dado uma atenção especial nos últimos anos a elaboração de programas culturais que permitam dar a conhecer ao público do país alvo o que é a música, a dança, o teatro e o cinema do outro país. Então, é uma área que vem se desenvolvendo. Nós vemos um enorme interesse, mas é uma área onde é necessário pelo menos uma etapa inicial e mais envolvimento dos dois governos.

Eu espero em algum momento que nós possamos chegar a acordos de coprodução em televisão, por exemplo. Tem um potencial grande de difusão da cultura dos dois países.

Publicação autorizada pela CRI China

Compartilhe

Fabiana Ceyhan

Jornalista por formação, Professora de Inglês (TEFL, Teaching English as a Foreigner Language). Estudou Media Studies na Goldsmiths University Of London e tem vasta experiência como Jornalista da área internacional, tradutora e professora de Inglês. Poliglota, já acompanhou a visita de vários presidentes estrangeiros ao Brasil. Morou e trabalhou 15 anos fora do país.