Artigo – Relações Brasil-Coreia: Presente, Passado e Futuro – Por Leila Bijos e Helmer Marra

Leila Bijos

Helmer Marra[i]

As relações diplomáticas entre a República da Coreia e o Brasil iniciaram em 1959. Nos anos subsequentes foram estabelecidas missões diplomáticas nos territórios de ambos os países. Com o fim precípuo de dinamizar as relações, foi inaugurada a Embaixada da Coreia no Rio de Janeiro, em 1962; sua transferência para Brasília em 1965, colimando com a abertura da Embaixada do Brasil em Seul.

Marco histórico da imigração coreana para o Brasil data de 23 de fevereiro de 1963, com a abertura de lojas de confecções na Baixada do Glicério, onde os coreanos moravam e desenvolveram seus negócios, trasladando-se para o Brás, Aclimação, Sé e Bom Retiro na cidade de São Paulo. Os coreanos no Paraná, chegaram na década de 1960, e se instalaram em Santa Maria, núcleo localizado no quilômetro 144 da Rodovia do Café, no município de Tibagi, na região dos Campos Gerais, em projetos agrícolas. Na década de 1970 já somavam 4028 imigrantes, e no presente perfazem mais de 43 mil coreanos.

Décadas se passaram, com um gradual aumento nos acordos bilaterais, o Acordo de Comércio (1963) e Cultural (1966). Em 1987 houve a convenção para evitar a dupla tributação comercial de produtos entre Brasil-Coreia. Dadas as proporções continentais do Brasil, foi instalado o Consulado-Geral da Coreia em São Paulo. Outra motivação fundamentou-se no auxílio aos coreanos na capital paulista, cidade cosmopolita e centro financeiro do Brasil.

Dentre as visitas diplomáticas destacam-se enviados especiais da presidência da época até chanceleres, como Paik Too-chin e Gong Romyung ao Brasil; Francisco Rezek e Aloysio Nunes à Coreia. O Ministério das Relações Exteriores discrimina sobre as várias instâncias bilaterais, diálogo efetivo e inovador entre os dois países, desde a década de 1950, até a criação de importantes comitês visando à abrangência da cooperação internacional Brasil-Coreia. Exemplificam-se o Acordo de 1996 sobre Cooperação no Domínio do Turismo, as  parcerias comerciais entre o país e o MERCOSUL em 2018, sob a responsabilidade do Chanceler Aloysio Nunes. Acordos de desenvolvimento da cooperação acadêmica, científica, comerciais e culturais, com intercâmbios entre as partes floresceram. Releva-se a parceria entre o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 1996) e Small and Medium Industry Promotion Corporation (SMIPC, Coreia – Corporação para a Promoção de Pequenas e Médias Indústrias), que assinaram um acordo de cooperação para a promoção do desenvolvimento de empreendimentos de médio e pequeno porte entre os dois países.

No aspecto cultural, desde o ano de 2010, evidencia-se um aumento exponencial de procura pela cultura coreana no Brasil por meio da Hallyu (Onda coreana), instrumento de poder brando (soft-power) da política externa da Coreia. Desde a realização de shows de K-Pop, um dos mais relevantes foi o festival United Cube – Fantasy Land, que trouxe os artistas da Cube Entertainment até então: 4Minute, BEAST e G.NA, realizado em São Paulo,  no dia 13 de dezembro de 2011. Ocorreram outros shows e festivais marcantes, envolvendo turnês mundiais de K-Pop. É necessário notar que, um dos impactos do K-Pop no Brasil, está na instalação de unidades da Fundação Instituto Rei Sejong (KSIF) no Brasil, ao longo do período de uma década, localizados em universidades ou nos Centros Culturais Coreanos em São Paulo. Consta no sítio eletrônico do KSIF, que “mesmo neste momento, os KSIFs por todo o mundo estão preenchidos com falantes não-nativos excitados para aprenderem a Língua Coreana e experimentar a cultura Coreana”. Essa descrição evidencia a Hallyu, parte da política externa sul-coreana, como presente pelo mundo e os entusiastas nas experiências proporcionadas pelas embaixadas, pelos Centros Culturais Coreanos, além de outros espaços de divulgação, que décadas atrás seria impossível cogitar as proporções que encontra-se.

Desde o início das relações diplomáticas entre Brasil e Coreia do final da década de 1950 até 2021, sobressaem-se relevantes mudanças na assinatura de novos acordos de cooperação, voltadas para transferência de inovações tecnológicas, investimentos em infraestrutura, meio ambiente, turístico-cultural. As transformações empreendidas nos últimos cinquenta anos pela Coreia, mostram padrões de industrialização pesada, liderada pelos grandes conglomerados de propriedade familiar “chaebols”, levando a indústria coreana a produzir e exportar, logo a seguir, maquinaria elétrica, automóveis, navios, produtos químicos, semicondutores etc., em condições de grande competitividade.

Muitas são as variáveis que influenciaram no desenvolvimento econômico sul coreano e brasileiro ao longo dos anos. As ricas experiências brasileira e sul coreana de industrialização merecem ser mais intensamente investigadas e discutidas, com enfoque nas caraterísticas estruturais da sociedade e da economia coreana.

Prospecções futuras sinalizam lições e aprendizados valiosos recebidos da Coreia do Sul, desde a implementação de políticas de acesso à informação para a população como um todo, avanços metodológicos ressaltados pela uniformidade de livros-texto e rituais escolares que reforçam e alimentam o espírito nacionalista coreano. O esforço coreano de alocação de eficiências inclui excelentes condições de trabalho, treinamento compulsório no ambiente laboral; planejamento econômico e organização industrial.


[i] Helmer Marra. Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais, PPGCPRI, UFPB. Linha de Pesquisa: Política Externa, Cooperação e Desenvolvimento.   

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Leila Bijos

Pós-Doutora em Sociologia e Criminologia pela Saint Mary’s University, Halifax, Nova Scotia, Canadá. Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (CEPPAC/UnB). Professora Visitante do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais (PPGCPRI), Universidade Federal da Paraíba (2020). Coordenadora de Pesquisa do Centro de Estudos Estratégicos (CEEEx), Núcleo de Estudos Prospectivos (NEP), Ministério do Exército (2019-2020). Aigner-Rollet-Guest Professor at Karl-Franzens University of Graz, Áustria Centro Europeu de Formação e Investigação dos Direitos Humanos e Democracia, Uni-Graz (2018/2019). Pesquisadora Visitante no International Multiculturalism Centre, Baku, Azerbaijão (2018). Professora do Mestrado Stricto Sensu em Direito da Universidade Católica de Brasília (2000-2017). Oficial de Programa do PNUD (1985-1999). Professora do Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual Transferência de Tecnologia para a Inovação – PROFNIT, Universidade de Brasília (UnB), CDT, Brasília, DF desde 2016.