Arquivo de reforma global - Brasília in Foco https://brasiliainfoco.com/tags/reforma-global/ O Jornal Brasilia in Foco cobre todo o mundo diplomático em Brasília Thu, 17 Apr 2025 03:19:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 https://brasiliainfoco.com/wp-content/uploads/2023/08/cropped-Logo-32x32.png Arquivo de reforma global - Brasília in Foco https://brasiliainfoco.com/tags/reforma-global/ 32 32 “Este é o momento de renovar e revitalizar o multilateralismo”, diz embaixador da Etiópia https://brasiliainfoco.com/este-e-o-momento-de-renovar-e-revitalizar-o-multilateralismo-diz-embaixador-da-etiopia/ Thu, 17 Apr 2025 03:19:05 +0000 https://brasiliainfoco.com/?p=51750 Em entrevista exclusiva ao BRICS Brasil, o embaixador Leulseged Tadese Abebe desdobra temas como cooperação em agricultura e turismo entre os países do grupo. A Etiópia, que entrou no BRICS no último ano, é a maior economia da África Oriental e sedia, em Adis Abeba, a União Africana. Terra de onde o café é originário, […]

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Em entrevista exclusiva ao BRICS Brasil, o embaixador Leulseged Tadese Abebe desdobra temas como cooperação em agricultura e turismo entre os países do grupo. A Etiópia, que entrou no BRICS no último ano, é a maior economia da África Oriental e sedia, em Adis Abeba, a União Africana.

Terra de onde o café é originário, único país da África com seu próprio alfabeto e, junto a Libéria, as únicas nações africanas a não serem colonizadas por europeus. Estes são alguns elementos que contam a história da Etiópia, país sede da União Africana que, desde 2023, é um país membro do BRICS.

“Se quisermos ter um desenvolvimento inclusivo e sustentável, isso não será possível sem a participação integral das mulheres em todos os níveis e em todos os aspectos.”

Com mais de 120 milhões de habitantes, o país é o segundo mais populoso do continente africano e a maior economia da África Oriental. O Produto Interno Bruto (PIB) da Etiópia multiplicou em dez vezes entre 2003 e 2017, saindo de 8 para 80 bilhões de dólares, consolidando-se como uma das economias que mais crescem no mundo.

Avanço para cooperação em setores estratégicos, como agricultura e turismo, fortalecimento de políticas pela igualdade de gênero, potencialidades da União Africana e, recordando discurso histórico do imperador Haile Selassie, uma defesa intransigente de um multilateralismo que responda às demandas do Sul Global. Estes são alguns dos temas abordados pelo embaixador da Etiópia no Brasil, Leulseged Tadese Abebe, em conversa exclusiva com o BRICS Brasil. Confira:

A agricultura, como destaque a produção familiar, é um dos motores fundamentais de renda e emprego na Etiópia, respondendo pela maior fatia do PIB do país e por mais de 80% dos postos de trabalho. Nesse contexto, qual é a relevância de discutir com especificidade esse modelo de produção agrícola na agenda do BRICS?

Leulseged Tadese Abebe: Nós temos destinado mais de 10% do orçamento nacional para a agricultura, adotamos uma abordagem de desenvolvimento rural integrado. Isto porque, quando falamos de agricultura familiar, estamos falando de desenvolvimento rural que inclui nutrição, saúde, escolas, estradas e acesso ao mercado. Hoje, com orgulho, posso dizer que nos tornamos o maior exportador de trigo da África. Isso mostra o compromisso da Etiópia em modernizar a agricultura.

Assim, no âmbito do BRICS, podemos contribuir para as discussões e aprender com as melhores práticas de outros países. A plataforma do BRICS no setor agrícola pode ser um excelente espaço para pesquisa e desenvolvimento conjunto. Além disso, para transformar a agricultura, precisamos envolver o setor privado, podemos trazer empresas do Brasil e de outros países membros para impulsionar o setor agrícola. Podemos ter discussões produtivas e focadas em resultados, com o objetivo final de transformar a agricultura e garantir a segurança alimentar.

A Etiópia é um país com riqueza histórica, cultural e natural abundante, com grande potencial para a expansão do mercado turístico. Com o turismo sendo um dos temas em discussão no BRICS, como o país enxerga a possibilidade de cooperação nessa área?

Leulseged Tadese Abebe: A Etiópia é uma terra de origens, uma terra de diversidade e unidade. Já temos 17 patrimônios da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) – somos os primeiros na África em sítios naturais, históricos e religiosos. A paisagem, o povo acolhedor, a beleza e o clima são verdadeiramente os melhores – o clima é sempre agradável, e o povo tem um espírito hospitaleiro.

Desta forma, saudamos as discussões no BRICS sobre o setor de turismo, podemos aprender sobre as oportunidades turísticas uns dos outros, compartilhar melhores práticas e promover o turismo nos países do grupo. E acho que o debate em curso é muito produtivo, nos ajuda a impulsionar o turismo como fonte de crescimento econômico e de geração de empregos, sempre respeitando as leis nacionais, as práticas locais e, claro, o meio ambiente.

Por isso, estamos muito satisfeitos com as discussões em andamento no BRICS, porque um dos motivos pelos quais ingressamos no grupo foi para fortalecer os laços econômicos, e o turismo é uma das melhores formas de fortalecer esses laços.

Dados de 2023 indicam que mulheres ocupam 41% das cadeiras no parlamento da Etiópia, um índice superior ao de muitos países do Norte Global. De que forma o país incentiva a participação feminina na política e qual mensagem sobre gênero pretende construir no BRICS?

Leulseged Tadese Abebe: Para nós, essa é uma questão central. Se quisermos ter um desenvolvimento inclusivo e sustentável, isso não será possível sem a participação integral das mulheres em todos os níveis e em todos os aspectos. Esses fatores são absolutamente indispensáveis. Primeiro, porque é uma questão de direito, as mulheres têm o direito de participar em todos os sistemas de decisão de qualquer país, de qualquer sociedade.  É um direito.

Em segundo lugar, do ponto de vista econômico, é extremamente útil para qualquer país ou sociedade aproveitar o potencial das mulheres, porque elas têm um papel decisivo na prosperidade de qualquer sociedade. É essa convicção que motiva o Primeiro-Ministro Abiy Ahmed a garantir a participação das mulheres em todos os níveis do governo.

Mas entendemos também que a participação das mulheres não deve ser significativa apenas no parlamento, mas em todas as esferas. Quanto mais as mulheres são empoderadas, mais condições elas têm de garantir a educação dos filhos. Se queremos assegurar segurança alimentar, a inclusão das mulheres, especialmente na agricultura familiar, terá um impacto muito maior. Se investirmos nas famílias lideradas por mulheres, seremos mais eficientes em questões como nutrição, por exemplo.  A participação das mulheres é a decisão certa do ponto de vista político e econômico.

“Estamos totalmente comprometidos em nos integrar a todos os mecanismos e arranjos desse grupo. Um dos pilares mais importantes da família BRICS é o Novo Banco de Desenvolvimento.”

Há mais de seis décadas, a Etiópia trabalha de forma exitosa em cooperação com o Banco Africano de Desenvolvimento. Com o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), já há projetos em desenvolvimento ou em intenção?

Leulseged Tadese Abebe: Nós trabalhamos com diferentes bancos de desenvolvimento, alinhados às nossas prioridades nacionais, de forma a gerar impactos reais na região, de acordo com nossa realidade e contexto nacional.

No que diz respeito ao Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), já solicitamos nossa adesão. Essa é uma de nossas prioridades este ano, pois já integramos a plataforma do BRICS. Estamos totalmente comprometidos em nos integrar a todos os mecanismos e arranjos desse grupo. Um dos pilares mais importantes da família BRICS é o Novo Banco de Desenvolvimento, e a Etiópia está pronta para se tornar membro.

Já recebemos apoio político de todos os membros do BRICS e esperamos que nossa adesão seja concluída em breve. Uma vez que ingressarmos, nosso foco estará em diversos setores, incluindo agricultura, energia, manufatura e outras áreas que são prioridades do banco.

Além da Etiópia, África do Sul e Egito também representam o continente africano no BRICS. Qual a principal contribuição dos países da União Africana para o fortalecimento Sul Global?

Leulseged Tadese Abebe: Adis Abeba, capital da Etiópia, é a sede da União Africana, Contribuímos para a formação da União, e, anteriormente, para a criação da Organização da Unidade Africana. Por isso, sempre defendemos as posições comuns da África. Ao ingressar no BRICS, a Etiópia, juntamente à África do Sul e ao Egito, pode promover as posições africanas sobre paz e segurança, desenvolvimento inclusivo e sustentável, clima e outras questões.

“Este é o momento de renovar e revitalizar o multilateralismo – um multilateralismo que responda às legítimas demandas e aspirações do Sul Global. Precisamos reformar o sistema global de tomada de decisões para construir um futuro melhor.”

A União Africana tem posições comuns em diversos temas, incluindo a inteligência artificial – uma das prioridades da presidência brasileira do BRICS. Assim, também podemos falar em uma só voz para defender essa agenda. Dentro da plataforma do BRICS, podemos promover a África como destino para comércio, investimentos e turismo. Como sabem, somos o segundo continente mais populoso do mundo, com 1,4 bilhão de pessoas – a maioria, jovens. Essa é uma grande oportunidade para o crescimento econômico global.

Há 89 anos, o então imperador da Etiópia, Haile Selassie, realizou um discurso histórico na Assembleia da Liga das Nações, instituição que antecede a Organização das Nações Unidas (ONU). Como o senhor avalia o discurso nos dias atuais, em vistas ao multilateralismo? 

Leulseged Tadese Abebe: O multilateralismo está enfraquecido, e precisamos de mais multilateralismo – não menos – porque o mundo é altamente interdependente. Os problemas que enfrentamos nas áreas de paz, segurança, desenvolvimento e mudança do clima são universais e transnacionais. Se os problemas são universais e transnacionais, as soluções também devem ser universais e transnacionais.

A diferença entre o que é “externo” e “interno” está diminuindo, pois vivemos em um mundo profundamente interconectado. E é aqui que ressoa a importante mensagem do Imperador Haile Selassie. Em 1936, após a invasão da Etiópia pela Itália fascista, ele foi a Genebra e discursou perante a Liga das Nações, defendendo a importância da segurança coletiva e a indivisibilidade da paz. Se um país é atacado ilegalmente, isso deve ser considerado um ataque a todos os povos amantes da paz. No entanto, infelizmente, a comunidade internacional falhou em responder ao apelo do Imperador Haile Selassie naquela época.

A Etiópia sempre defendeu o multilateralismo e a mensagem de Haile Selassie em Genebra permanece relevante para o mundo atual, que continua a enfrentar inúmeros desafios transnacionais. Este é o momento de renovar e revitalizar o multilateralismo – um multilateralismo que responda às legítimas demandas e aspirações do Sul Global. Precisamos reformar o sistema global de tomada de decisões para construir um futuro melhor não apenas para a geração atual, mas também para as futuras gerações.

Fonte: Brics

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Mudanças climáticas e IA serão pautas do Brasil à frente do Brics https://brasiliainfoco.com/mudancas-climaticas-e-ia-serao-pautas-do-brasil-a-frente-do-brics/ Thu, 26 Dec 2024 11:56:13 +0000 https://brasiliainfoco.com/?p=49920 País buscará entendimento com outros países do grupo, diz embaixador O Brasil assume a presidência do Brics em 1º de janeiro do ano que vem e receberá, pela quarta vez, a reunião de cúpula do grupo. Para o governo brasileiro, essa será uma oportunidade de buscar entendimento, entre as dez nações que compõem o grupo, […]

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País buscará entendimento com outros países do grupo, diz embaixador

O Brasil assume a presidência do Brics em 1º de janeiro do ano que vem e receberá, pela quarta vez, a reunião de cúpula do grupo. Para o governo brasileiro, essa será uma oportunidade de buscar entendimento, entre as dez nações que compõem o grupo, na direção da construção de um mundo melhor e mais sustentável.

Em entrevista à Agência Brasil, o embaixador Eduardo Saboia, sherpa (ou seja, o negociador-chefe) do Brics em 2025, afirma que o grupo, pelo tamanho de sua população (mais de 40% do total global) e de sua economia (37% do PIB mundial por poder de compra), tem uma grande importância no cenário global.

“Se você quer construir um mundo melhor, um mundo sustentável, o Brics tem que ser parte dessa construção. E é importante que haja um entendimento entre esses países, porque esse entendimento ajuda você a alcançar um entendimento mais amplo [com outros países]”, disse Saboia.

Além de temas que já vêm sendo discutidos no Brics, como a possibilidade do uso de moedas locais no comércio entre os países e a reforma da governança global, o Brasil aproveitará sua posição à frente do grupo, para buscar entendimento em temas como as mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável com redução da pobreza e uma governança sobre a inteligência artificial.

A questão do clima é de especial interesse porque o Brasil sediará também neste ano, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30), em Belém.

“Como a gente pode aproveitar a presidência do Brics para construir um entendimento que possa ajudar para o êxito da COP-30? Os países que são membros do Brics têm um papel central na questão da energia, que é a principal fonte de emissões de gases do efeito estufa”, afirma.

Embaixador Eduardo Saboia fala sobre Brics e IA – Foto: Gustavo Magalhães/MRE

Já a governança da Inteligência Artificial (IA) é um tema relevante uma vez que, segundo o embaixador, essa é uma tecnologia “disruptiva”. “Não existe uma governança da inteligência artificial, mas essa é uma discussão que está ocorrendo. Quem sabe no Brics, durante a presidência brasileira, a gente possa avançar na ideia de ter uma visão desses países sobre como deve ser a governança da inteligência artificial”.

De acordo com Saboia, o Brics é uma força de construção e também estabilizadora. “É estabilizadora porque se você tem esses países, que são muito diferentes e com sistemas políticos diferentes, cada um com seus desafios, se entendendo e eles se reúnem todo ano, isso é bom para todo mundo, porque dali saem soluções para a população”.

Ampliação

A primeira reunião de cúpula ocorreu em 2009, apenas com Brasil, Rússia, Índia e China (o Bric original). Em 2011, a África do Sul aderiu, transformando a sigla em Brics.

Em 2023, na cúpula de Johannesburgo, na África do Sul, o Brics convidou Argentina, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes, para se juntarem ao grupo a partir de janeiro de 2024. A Argentina decidiu não aderir, enquanto os demais participaram da cúpula deste ano, em Kazan, na Rússia.

O embaixador Saboia explica que a expansão dos Brics é resultado do êxito do grupo. “O Brics hoje desperta grande interesse e é importante que ele seja representativo dos países do sul global, dos países emergentes”.

Segundo ele, a ampliação do grupo tem apoio do Brasil e dialoga com a posição do país em relação à reforma da governança global. “Se a gente defende a reforma e a ampliação do Conselho de Segurança [da ONU], faz sentido que a gente tenha uma ampliação do Brics. Agora essa plataforma [o Brics], tem uma pauta, tem um acerto, então os países que entraram, abraçaram essas conquistas. Uma das prioridades é fazer com que essa incorporação se dê da maneira mais suave e efetiva possível”.

Na cúpula de Kazan, o Brics também anunciou uma nova modalidade de membros (os países associados) e definiu-se que 13 nações seriam convidadas: Cuba, Bolívia, Turquia, Nigéria, Indonésia, Argélia, Belarus, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã e Uganda.

Saboia afirma que o anúncio em relação à adesão dos países parceiros será feito nas próximas semanas. “Uma das prioridades da nossa presidência é fazer com que esses países se sintam acolhidos na família do Brics. É importante que haja um trabalho para que eles se envolvam. Eles participarão das reuniões de ministros de Relações Exteriores e também há previsão que eles participem da cúpula [de 2025]”.

Fonte: Agência Brasil

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